São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 1995 |
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'Yndio do Brasil' faz a crítica do racismo
JOSÉ GERALDO COUTO
Produção: Brasil, 1995, 70 min. Direção: Sylvio Back Locução: José Mayer Onde: estréia hoje no Cinesesc; às 20h, lançamento do livro "Yndio do Brasil: Poemas de Filme" (editora Nonada), de Sylvio Back "Yndio do Brasil" é uma espécie de autocrítica do cinema com relação à imagem do índio que ele ajudou a construir nos últimos 80 anos. É uma colagem de trechos de uma centena de filmes nacionais e estrangeiros sobre índios. São imagens de filmes de ficção -como "A Lenda de Ubirajara", "Casei-me com um Xavante", "Como Era Gostoso Meu Francês"-, documentários etnográficos, cinejornais etc. Para o diretor do documentário, Sylvio Back, o cinema tem reforçado o olhar distorcido que a sociedade branca tem do índio. "Esse olhar tem várias vertentes: uma é a do cinema americano, em que os índios são maus, demonizados; outra é a da Igreja, que mostra de um lado o índio demonizado, e de outro o índio idealizado, ingênuo, idílico", diz o cineasta. A trilha sonora é composta basicamente de MPB, além de poemas escritos pelo diretor e dramatizados pelo ator José Mayer. "Durante a pesquisa para o filme, me dei conta de que a música popular usou muito o tema do índio e acabou reproduzindo o mesmo olhar preconceituoso, idílico, racista e discriminatório que o cinema passa", afirma Back. Na raiz da visão que discrimina o índio, segundo o diretor, está a atuação da Igreja desde o período colonial. "A Igreja sempre quis enquadrar o índio desossificando-o de sua cosmogonia", diz Back, que em 1982 já havia abordado o tema no documentário "República Guarani". Depois, já na República, o índio foi vítima da integração nacional preconizada pelo Exército. "De formação positivista, o Exército brasileiro tem tentado integrar o índio aos ideais de ordem, progresso, autoridade. Acontece que o índio é sinônimo de desordem. Ele não tem uma organização voltada para produzir e progredir." Em sua crítica à política indigenista do Exército, Back não poupa o marechal Rondon, que aparece em algumas das imagens aproveitadas. Muito pelo contrário: "Rondon é um genocida branco. Embora tivesse o lema 'morrer se preciso, matar nunca', ao integrar o índio, ele o estava matando". O diretor diz que fez um filme "desideologizado", se abstendo de dar ao espectador uma idéia pronta sobre o assunto. Daí, segundo ele, a ausência de narração. "Desde 'A Revolução de 30' (1980) abdiquei do narrador em meus filmes. O cineasta que usa um narrador não acredita na sua imagem, e diminui assim o espectro do imaginário do espectador." Back diz ter visto cerca de 700 filmes em sua pesquisa, realizada em arquivos e cinematecas do Brasil e dos EUA. O processo de seleção e montagem desse material levou cerca de três anos. A colagem aparentemente desconexa de som e imagem obedece, segundo o diretor, a uma intenção: "Gosto de fazer o espectador ver dois filmes ao mesmo tempo: um filme de imagem e um filme de som, sem um acoplamento forçado entre as duas coisas". Sylvio Back lança hoje, no Cinesesc, a partir das 20h, o livro "Yndio do Brasil", com poemas feitos para o documentário. Texto Anterior: Sesi expõe a poesia plástica de Leonilson Próximo Texto: Roberto Benigni volta à forma com 'O Monstro' Índice |
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