São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 1995
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Sesi expõe a poesia plástica de Leonilson

MARA GAMA
EDITORA-ADJUNTA DA ILUSTRADA

A maior mostra do artista plástico Leonilson (1957-1993) começa na terça-feira, na galeria do Sesi, em São Paulo. Parte da exposição segue para o Museu de Arte Moderna de Nova York, em 1996.
"São Tantas as Verdades" exibe cem obras. Cobre um período de dez anos: de 1983, um ano antes da exposição que marcaria o "lançamento" da Geração 80 (no Parque Lage, Rio), da qual Leonilson foi expoente, até o ano da morte do artista cearense.
Foram reunidas obras que estavam espalhadas nas mãos de 30 colecionadores e outras já sob a guarda do Projeto Leonilson, sociedade civil sem fins lucrativos que atua na pesquisa, cadastramento e conservação de sua obra.
O Projeto é responsável também pela edição do livro "Leonilson: São Tantas as Verdades", em parceria com o Sesi. O volume tem 224 páginas, 124 reproduções, edição bilíngue e será lançado na segunda no Sesi. Na ocasião, será colocada à venda uma tiragem de 50 exemplares de uma escultura de Leonilson.
O livro traz textos do artista Adriano Pedrosa, do crítico de arte Ivo Mesquita, uma cronologia, um ensaio e uma entrevista realizados pela jornalista Lisette Lagnado -também curadora da mostra- em sete sessões com o artista, de outubro a dezembro de 1992.
Leonilson ilustrou, de março de 1991 a maio de 1993, a coluna semanal de Barbara Gancia na Folha . A exposição traz um dos originais dessas ilustrações e revela 36 desenhos inéditos do artista. Alguns deles são da série "Dedicados", que Leonilson jamais entregava aos "destinatários". Também está na mostra a série "Perigoso", que começa com um pingo de sangue em uma folha de papel.
Para fugir da ordem cronológica e mostrar temas recorrentes na obra do artista, a curadora resolveu iniciar a exposição com uma ala que chama de "sublime".
São bordados e trabalhos com pedras, quase todos sem moldura, da última fase de Leonilson. "Esse pedaço da mostra é para ser percorrido de joelhos", diz Lisette.
A brincadeira não é desprovida de sentido. Nessa espécie de "capítulo final" da obra (e "inicial" da mostra), está celebrada, religiosamente, a ausência do artista. Por ele mesmo.
Morto em consequência da Aids, em maio de 1993, Leonilson produziu, nos últimos dois anos de vida, "auto-retratos" em forma de relicários.
São panos -lençóis, retalhos de veludo, feltros- costurados à mão uns aos outros, em que Leonilson bordou pedaços do que é considerado seu "diário poético", em títulos, dedicatórias, assinaturas (que incluíam peso, idade, altura) e desenhos mínimos. Essa fase, posterior à realização do teste de Aids, é denominada de "Alegoria da Doença" no cuidadoso ensaio "O Pescador de Palavras", de Lisette, que faz parte do livro.
Estão na mostra também obras anteriores, da fase classificada como romântica, que vai de 1989 a 1991. São trabalhos que mostram o interesse crescente de Leonilson por costuras e bordados, tratados como elementos de pintura.
Lisette foi comedida na escolha das obras da época da Geração 80. Devido às dimensões da galeria, as grandes telas e lonas com os "mapas" estão em menor número.
Mas podem ser vistas algumas das mais significativas e conhecidas pinturas do artista, como "Leo Não Consegue Mudar o Mundo", "São Tantas as Verdades", "O Pescador de Palavras" e "Na Neblina, o Bom Piloto".
Nelas, os corações, rios, pontes, montanhas, vulcões, livros, cabeças e escadas festejam o que Lisette denominou de "Pintura como Prazer".

Mostra: São Tantas as Verdades
Quando: de 21 de novembro até 28 de janeiro de 1996
Abertura: para convidados, com o lançamento do livro, dia 20, às 19h.
Onde: Galeria do Sesi (av. Paulista, 1.313, tel. 011/253-5877)
Horário: de terça a sexta, das 8h30 às 20h30, e aos sábados e domingos, das 14h30 às 20h30.

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