São Paulo, sábado, 18 de novembro de 1995
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Escuta telefônica derruba assessor de FHC

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O diplomata Júlio César Gomes dos Santos, 55, foi exonerado da chefia do Cerimonial da Presidência da República sob suspeita de exercer tráfico de influência em negociações relacionadas ao projeto Sivam. O Planalto manteve sua indicação para a embaixada brasileira no México.
A PF (Polícia Federal) fez escuta telefônica na linha da casa de Júlio César. As transcrições de várias conversas que citam o Sivam e a empresa norte-americana Raytheon foram apresentadas ao presidente na última segunda-feira, segundo o porta-voz da Presidência, Sergio Amaral.
A investigação da PF foi feita com autorização do próprio ministro da Justiça, depois que o presidente recebeu denúncias de dentro do próprio governo contra o chefe do cerimonial.
Amaral disse que FHC manteve a indicação de Júlio Cesar para o México, feita no último dia 10, porque o diplomata teria apenas pedido a exoneração do cargo que ocupava no Planalto. Segundo ele, "o presidente não vê motivo que desmereça a confiança".
"O embaixador Júlio César cometeu uma imprudência (nas conversas que teve). Mas, nos quase três anos em que trabalhou com o presidente, não fez lobby nem praticou ato que possa significar interferência por interesses terceiros", disse Amaral.
O porta-voz disse que Júlio César dos Santos "não tem atribuição em nenhuma questão relativa ao projeto Sivam". Ele não revelou o conteúdo da fita.
Disse que a Polícia Federal gravou "algumas conversas com diferentes pessoas" e que há citações "a pessoas e empresas".
A Folha apurou junto à Polícia Federal que a maioria das gravações envolve conversas com empresários.
Segundo Sergio Amaral, "há (nos telefonemas) referências à empresa Raytheon (escolhida pelo governo para executar o projeto Sivam) e ao projeto Sivam".
Ele disse que a escuta foi feita pela PF com autorização judicial. Afirmou não saber se o próprio governo autorizou a escuta.
Amaral afirmou que FHC soube na segunda-feira da denúncia e da realização da escuta e cobrou explicações no dia seguinte a Júlio César. O diplomata teria pedido exoneração do cargo na quarta.
A demissão estava decidida desde anteontem, mas só foi oficializada ontem.
A exoneração foi aceita "para que ele possa ter a liberdade de se defender e ao mesmo tempo não criar um constrangimento".
Ontem de manhã o embaixador esteve no Palácio do Planalto. À tarde, no Cerimonial, as secretárias informaram que o diplomata tinha viajado e retornaria a Brasília na próxima terça-feira.
Júlio César tornou-se um assessor muito próximo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Eles se conheceram no Itamaraty, durante a gestão de FHC como ministro das Relações Exteriores.
Desde então, ele trabalhava com FHC. Primeiro, no Ministério da Fazenda, onde exerceu a função de assessor especial.
Depois, na campanha para a Presidência, quando cuidou da organização de eventos.
Crime
Desde ontem o tráfico de influência é crime previsto em lei, cujo texto foi publicado ontem pelo "Diário Oficial" da União.

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