São Paulo, sábado, 18 de novembro de 1995
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Macas congestionam hospital sem médicos

ANTONIO ROCHA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A falta de médicos e leitos transformou os corredores do pronto-socorro do Hospital Municipal Dr. Fernando Mauro Pires da Rocha, no Campo Limpo (zona sul de São Paulo), em um "estacionamento" de macas, onde pacientes são atendidos e ficam à espera de alta ou transferência.
O hospital, que seria um dos primeiros, juntamente com o de Pirituba, na implantação do novo plano de saúde da prefeitura, teve esse projeto adiado devido à baixa adesão dos médicos ao programa.
O PAS (Plano de Assistência à Saúde) prevê a transferência de hospitais e postos de saúde da prefeitura para cooperativas de médicos e funcionários licenciados do serviço público municipal.
O hospital atende 500 pacientes por dia no PS e faz 450 partos por mês. Mas tem hoje um déficit de 32% no quadro mínimo necessário de médicos para atendimento, segundo documento enviado à Administração Regional de Saúde (ARS-10) em 18 de outubro.
A Folha obteve uma cópia do documento, que revela que o hospital tem 147 médicos, quando seriam necessários 217 para o atendimento adequado (leia quadro).
Na última terça-feira, o PS tinha 90 pacientes. A capacidade em leitos é de 30.
Márcio Joel Estevam, diretor do hospital, afirma que, para tentar minimizar o problema, fez um remanejamento de equipes.
"Enquanto não atingirmos o número ideal de médicos, eu remanejo e garanto um atendimento mínimo", diz (leia texto ao lado).
Mas o remanejamento gerou insatisfação entre os médicos do hospital. Eles se dizem inconformados com as constantes mudanças de horários de plantões e se recusam a aceitá-las.
Um médico, que pede para não ser identificado, diz que, com a equipe desfalcada, aumentam as chances de um médico não-especialista em certa área cometer um erro, levando risco aos pacientes.
Na opinião desse médico, a política da prefeitura visa forçar os profissionais a sair do hospital para implementar o PAS.
No último dia 25, os médicos do hospital encaminharam um abaixo-assinado à diretoria, com 120 assinaturas, em que apontam os problemas no atendimento.
No documento, os médicos afirmam que se recusam a participar dos plantões de rodízio dos fins-de-semana por não concordarem, entre outros pontos, com "a omissão das autoridades".
Os médicos apontam "gritante indisponibilidade de medicamentos". Citam como exemplo a falta de anticonvulsivantes (substância que previne ou impede convulsões) na sala de emergência.
Com isso, a enfermagem precisa buscar o medicamento em outro setor, o que leva de 10 a 15 minutos, segundo o texto. "Neste intervalo, o paciente já superou a crise ou evoluiu para intenso agravamento", diz o documento.
Os médicos sugerem um conjunto de medidas. Entre elas está o preenchimento do quadro de funcionários médicos e paramédicos.

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