São Paulo, sábado, 18 de novembro de 1995
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'Perdoa-me' é Nelson Rodrigues visceral

DANIELA ROCHA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Peça: Perdoa-me por me Traíres
Autor: Nelson Rodrigues
Diretor: Marco Antônio Braz
Elenco: Flavia Pucci, Maurício Marques e Círculo de Comediantes
Quando: estréia hoje, às 21h30 (de qui a sab, às 21h30; dom, às 20h30)
Onde: Centro Cultural São Paulo, (r. Vergueiro, 1.000, tel. 011/277-3611)
Ingresso: R$ 8

A montagem de "Perdoa-me por me Traíres" por Marco Antônio Braz fez tanto barulho em São Paulo que agora reestréia temporada com a presença na platéia da viúva do autor Nelson Rodrigues, Elza Bretanha Rodrigues, 77, e de Nelson Rodrigues Filho, 50, o filho mais velho do dramaturgo.
Apesar de reestrear hoje, a família de Nelson só deve vir a São Paulo no sábado que vem, por causa de compromissos de Nelson Filho em Vitória e em Brasília, (leia texto abaixo).
"Perdoa-me por me Traíres" foi a única peça de Nelson Rodrigues encenada por ele (no papel de tio Raul) durante 17 dias, no Teatro Municipal do Rio. Vaiado e acusado de tarado pelo público, ele bradava durante os agradecimentos: "Seu bando de zebus! Vocês não entenderam nada".
"Perdoa-me" é a história de tio Raul, que conta todos os desencontros familiares à sobrinha criada por ele, Glorinha, ao descobrir que ela frequentava uma casa de acompanhantes. Os mortos ressurgem em um enredo que reverencia a ancestralidade. "É um jogo de terror sem perder a poesia", afirma Flavia Pucci, que interpreta tio Raul, e que já participou de cinco montagens de Nelson Rodrigues.
Esta temporada de um mês e meio no Centro Cultural é o resultado de um estudo de imersão na obra de Nelson Rodrigues pela companhia Círculo de Comediantes, coordenada por Marco Antônio, Flavia Pucci (que dá aulas de interpretação) e Maurício Marques (professor de expressão vocal).
"Fizemos uma montagem artesanal da peça para poucos meses em cartaz. Acabamos ficando um ano, tempo para experimentarmos até troca de papéis entre os atores. Esta reestréia mostra o resultado das pesquisas", afirma o diretor.
A justificativa encontrada por ele para o enorme sucesso de público durante a temporada passada é que a peça provoca um processo catártico no espectador. "Nelson trata da questão do desejo, da doença criada a partir do desejo inconfessável", afirma.
O cenário desta montagem é um corredor, que na verdade é o espaço de um caixão gigante. O público está disposto como se fosse as paredes do corredor ou do caixão. "O público assiste ao seu próprio velório", define Flavia. Para Marco Antônio, o corredor propicia uma dinâmica cinematográfica presente nos textos rodrigueanos.
Sua maior preocupação nesta montagem foi manter o texto da peça integral. "Cada frase é fundamental. Sua linha de trabalho privilegia a fala. "Os anos 80 foram marcados por espetáculos visuais. Quero resgatar o texto".
Sua maior ambição é de ser o encenador de Nelson Rodrigues. Para ele, o Brasil deve ter uma companhia de repertório para Nelson, como Londres tem a Royal Shakespeare Company. "As pessoas estão loucas para ver Nelson porque ele expõe as sombras que todos nós reprimimos, nossos dramas inconfessáveis. Seu domínio da carpintaria teatral é tão grande que é impossível não chorar com a encenação de seu texto".
Marco Antônio já prepara montagem de "Viúva, porém Honesta" para janeiro de 96.

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