São Paulo, sábado, 18 de novembro de 1995
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Allen tenta se justificar em "Mighty Aphrodite"

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Se a vida particular de Woody Allen não tivesse se tornado pública, seria possível julgar seus mais recentes filmes apenas pelo mérito artístico de cada um.
Mas em 1992, o compromisso amoroso com Mia Farrow acabou de maneira rocambolesca e relacionar o conteúdo das fitas dele com os detalhes do seu drama pessoal se tornou exercício inescapável. Assim, "Mighty Aphrodite", seu 27º filme, está sendo interpretado como mais uma tentativa do cineasta se justificar e defender.
O eterno personagem de Allen, o judeu neurótico de Nova York, inseguro com as mulheres, desta vez é o jornalista Lenny Winerib. A mulher, egoísta, antes vivida por Diane Keaton e Mia Farrow, agora é Helena Bohnam Carter.
O casamento dos dois, claro, vai aos trancos e barrancos. Como esforço final para tentar salvá-lo, resolvem adotar um filho.
O artifício não funciona. O pai resolve investir na procura da mãe biológica da criança, que resulta ser uma atriz de filmes pornô, vivida por Mira Sorvino.
"Mighty Aphrodite" não vai entrar na lista dos dez melhores Allen, embora seja cuidadoso, inteligente, refinado e tenha fotografia e trilha sonora primorosas.
Allen, 59, faz um filme por ano, quase todos têm uma linha temática comum, mas tenta sempre se renovar. Desta vez, com o recurso de um coro de teatro grego, que acompanha as agruras de Winerib como uma espécie de psicanalista coletivo do herói.
Apesar do esforço, "Mighty Aphrodite" tem problemas de continuidade no enredo: alguns personagens são relegados de repente a terceiro plano, o final é inconvicente. Como ator, Allen dá claros sinais de desgaste do tipo que criou e está longe de ser engraçado como há 25 anos.
Mas o diretor continua em forma, em especial na criação de personagens femininos. Quase todos os anos uma das indicadas para os Oscars de atriz vêm dos filmes dele. Esta é a vez de Mira Sorvino.

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