São Paulo, sábado, 18 de novembro de 1995
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Ênio Silveira

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Um paulista-carioca faz hoje 70 anos e merece ser comemorado. Integrou a equipe de Monteiro Lobato que se formou na Companhia Editora Nacional. Casou-se com Cléo, filha de Octales Marcondes, sócio de Lobato. Nos anos 50 veio para o Rio dirigir a Civilização Brasileira.
A José Olympio, que era então a maior editora do Brasil, começava o declínio comercial. Ênio lançou-se no mercado com fúria, tornou-se em pouco tempo o mais corajoso editor do país. Não podia concorrer com a Zé Olympio e seu time de autores consagrados. Tratou de lançar nova geração: Fernando Sabino, Stanislaw Ponte Preta, Nelson Werneck Sodré, Millôr Fernandes, Hélio Silva, Moacyr Félix, Thiago de Mello, Ferreira Gullar, Chico Buarque, Paulo Mendes Campos, Adonias Filho, Dias Gomes, Otto Maria Carpeaux, Antonio Callado, Guilherme Figueiredo, Antônio Houaiss, Paulo Francis.
Sua presença na vida cultural dos anos 60 foi marcada por sua opção ideológica. Em torno dele se aglutinou um grupo de resistência ao regime militar. A editora pagou o preço pela sua luta.
Foi um dos mais perseguidos pelos IPMs e pela repressão que o levou à cadeia. Sua loja foi derrubada, ficou um montão de escombros, ali na esquina da Rio Branco com a Sete de Setembro -o ponto de venda de livros mais importante do Rio de Janeiro.
O último golpe sofrido por Ênio veio de uma criatura sua: eu próprio. Foi ele quem, em 1958, leu os originais de meu primeiro romance. Editou e reeditou mais de 15 livros que fui escrevendo, pressionado por sua confiança. Meu décimo romance saiu agora pela Companhia de Letras. Escrevi-lhe uma carta explicando a situação. Depois de 21 anos de castidade, fui gerar meu último rebento fora do tálamo oficial.
Isso em parte me liberou para proclamar, pela primeira vez, meu afeto por ele. E ir hoje abraçá-lo com Jorge Zahar, Mário da Silva Brito, a turma toda que deve a ele o calor da amizade e o exemplo de um caráter.

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