São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Denúncia de droga levou a assessor de FHC

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA; DA REPORTAGEM LOCAL; DA AGÊNCIA FOLHA

Polícia Federal não encontrou envolvimento com o narcotráfico; representante da Raytheon confirma telefonema
Denúncias anônimas de envolvimento do embaixador Júlio César Gomes dos Santos em tráfico de drogas foram o motivo apresentado pela PF (Polícia Federal) à Justiça para pedir a quebra do sigilo telefônico do ex-chefe do cerimonial do Palácio do Planalto.
O embaixador foi exonerado anteontem depois que gravações de telefonemas apontaram indícios de crime de tráfico de influência.
Embora o motivo oficial para a abertura das investigações tenha sido o suposto envolvimento com drogas, a PF suspeitava que Júlio César estivesse usando a proximidade com o presidente Fernando Henrique Cardoso para intermediar pedidos de lobistas.
Em um mês de escuta, a polícia não encontrou sinal de envolvimento no tráfico de drogas.
As gravações revelam, no entanto, uma conversa entre o embaixador e José Afonso Assumção, dono da Líder Táxi Aéreo e representante da Raytheon, empresa americana que ganhou a licitação do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
Em um trecho, Júlio César critica o senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) por dificultar a aprovação do projeto. "Você já pagou o cara? ", pergunta o embaixador.
O senador nega qualquer envolvimento, diz que não recebeu dinheiro e recomenda ao governo, "devido à gravidade do caso ", a retirada do projeto do Congresso.
Miranda promete "apertar " Júlio César, na sessão em que o diplomata será sabatinado pelo Senado sobre a sua indicação para o cargo de embaixador no México.
Miranda estuda ainda a possibilidade de processar Júlio César, por ter envolvido seu nome na conversa "grampeada ".
A Folha não conseguiu localizar ontem o embaixador. Segundo familiares, ele está viajando e só retorna a Brasília amanhã à noite.
Em outro trecho da conversa, cujo o teor foi revelado pela revista "Isto É" desta semana. Assumção informa ao embaixador que hospedou na sua casa, durante três dias, o ministro da Aeronáutica, Mauro Gandra.
Para Assumção, de acordo com a conversa gravada, o projeto do Sivam não teria problemas no que dependesse de Gandra.
Em nota divulgada ontem, a Raytheon informa que Assumção não é executivo, empregado ou agente da empresa.
A Líder seria, segundo a Raytheon, uma "representante independente para promoção e marketing de produtos ".
Assumção confirmou ontem, em Belo Horizonte, que falou por telefone com o embaixador Júlio César sobre a aprovação do financiamento do Sivam.
"Ele é um amigo e todos os amigos que sabem do meu empenho com o projeto Sivam perguntam sobre isso", declarou. Ele negou qualquer esquema de tráfico de influência.
Assumção confirma também ter hospedado o ministro, de quem diz ser muito amigo, mas nega que o motivo da gentileza tenha sido a prática de lobby.

Colaboraram a Reportagem Local e a Agência Folha

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