São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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BC decreta intervenção no Nacional; depósitos passam para o Unibanco

GUSTAVO PATÚ; VIVALDO DE SOUSA; CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O movimento de saques de clientes nas últimas duas semanas fez o Banco Central decretar ontem o regime de administração especial temporária sobre o Banco Nacional.
Segundo anunciou o presidente do BC, Gustavo Loyola, o Banco Nacional deixará de existir a partir de hoje. Todos os clientes, depósitos, obrigações e funcionários serão assumidos pelo Unibanco.
As agências até então pertencentes ao Nacional abrirão normalmente na segunda-feira. Os clientes poderão fazer aplicações ou saques de dinheiro como antes. A diferença é que já serão clientes do Unibanco, e seus saques serão garantidos pelo BC.
Trata-se de uma operação financeira inédita para o BC. O Nacional deixou de existir como banco -foi assumido pelo Unibanco- mas continua existindo como pessoa jurídica administrada pelo BC.
É a primeira vez que o BC aplica o regime de administração especial sobre uma empresa privada. É o mesmo regime adotado no Banespa e em mais quatro bancos estaduais.
As negociações para a fusão entre o Unibanco e o Nacional já estavam intensificadas há pelo menos um mês, mas foram prejudicadas pelas notícias do agravamento da situação financeira do Nacional.
Na madrugada do último dia 4, sábado, o governo editou MP (medida provisória) concedendo benefícios fiscais e empréstimos privilegiados a fusões e incorporações bancárias.
A edição apressada da MP sem explicações do governo fez com que os rumores sobre a crise financeira do Nacional se intensificassem. Ainda por cima, o BC demorou duas semanas para regulamentar a MP, o que só foi concluído anteontem.
As trapalhadas do governo acabaram prejudicando as negociações entre Unibanco e Nacional. Loyola disse ontem que o Nacional perdeu "centenas de milhões" de reais nas últimas semanas.
Será um meganegócio no qual o Unibanco desembolsará R$ 1,7 bilhão, sendo R$ 1 bilhão pela aquisição dos direitos e obrigações do Nacional -não se trata propriamente de uma incorporação, mas de uma cessão de direitos, porque não houve compra de ações- e R$ 700 milhões para o aumento de capital do próprio Unibanco.
Entrará dinheiro público também. Loyola disse que o volume de empréstimos do BC ainda está por ser definido. Os recursos, inexistentes no Orçamento do governo, serão emitidos- deverão sair da liberação de depósitos de bancos privados retidos no BC.
A família Magalhães Pinto, ex-controladora do Nacional, será obrigada a deixar o mercado financeiro. Empresas do conglomerado, como o banco de investimentos, a distribuidora e a corretora serão administradas e investigadas pelo BC. Segundo Loyola, o Nacional não chegou a registrar rombo junto ao BC apesar da onda de saques. Nos últimos meses, o banco vinha sendo financiado pelo Banco do Brasil e pela Caixa Econômica Federal.
(Gustavo Patú, Vivaldo de Sousa e Cari Rodrigues)

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