São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Prejuízo do Nacional atrasa o negócio

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem vai pagar pelos prejuízos que venham a ser apurados nas contas do Nacional? A família Magalhães Pinto, proprietária do Nacional, o Unibanco ou a "viúva", isto é, o governo?
Na avaliação de executivos do mercado financeiro paulista, essa é a questão que deve ter emperrado as negociações para a incorporação do Nacional pelo Unibanco.
Se os donos do Unibanco e do Nacional tivessem chegado a um entendimento sobre o preço e as condições da incorporação, não haveria necessidade de intervenção do BC.
A combinação complexa de intervenção do BC com o Unibanco já assumindo a operação do Nacional sugere que foi preciso agir para impedir uma corrida contra o Nacional, amanhã.
O Unibanco ficou com o Nacional, mas preço e pagamento ainda estariam por resolver.
Embora o Nacional tenha registrado lucro e rentabilidade nos últimos balanços, é provável que a situação tenha se deteriorado.
Segundo informações correntes nos meios bancários, o Nacional pode estar com um buraco de R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões nas suas operações diárias.
Analisando os boletins do BC, especialistas do mercado financeiro são capazes de identificar bancos em dificuldades nessas operações, embora seja difícil avaliar o tamanho do rombo.
O Nacional está identificado como banco que vem recorrendo a empréstimos do BC, do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal para fechar suas contas. Ou seja, o que o Nacional tem a pagar, no dia-a-dia, é superior ao que tem a receber.
Esse buraco seria os R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões emprestados pelos bancos oficiais. E seria um dos prejuízos a contabilizar na incorporação.
Além disso, especula-se que, com a perda de depósitos das últimas semanas e com a falta de pagamento de muitos de seus clientes, o Nacional deve estar com patrimônio negativo.
Essa conta vai além das operações do dia-a-dia. Toma-se tudo que o banco tem a receber, mais seus bens (participações em outras empresas, imóveis, valor das agências, equipamentos etc.) e retiram-se todos os seus compromissos a pagar.
Se faltar dinheiro, o patrimônio é negativo. Quanto seria? A conta é demorada. Provavelmente, o pessoal do Unibanco só saberia depois de assumir o Nacional.
E quem pagaria?
Pode ser a família Magalhães Pinto, proprietária do Nacional, que perderia o banco e ainda teria que entregar mais dinheiro ou para o BC ou para o Unibanco. Pode ser o Unibanco, a instituição sadia que está assumindo o banco em dificuldades.
Ou pode ser a "viúva", como se diz no mercado. Trata-se do Banco Central e do Tesouro, que podem dar créditos especiais ao Unibanco ou permitir que abata prejuízos da fusão no imposto de renda.
O prejuízo pode também ser dividido. De todo modo, é uma longa discussão.
O Regime Especial de Administração Temporária (RAET) aplicado no Nacional é uma boa solução temporária. Deixa as agências do Nacional em funcionamento, sem prejuízo para os clientes.
Entrega-se ao Unibanco, o que dá credibilidade à operação.
E, sendo intervenção, os bens dos controladores e dos administradores do Nacional ficam indisponíveis.
Ou seja, o BC manteve a possibilidade de cobrar os prejuízos da famílias Magalhães Pinto e dos administradores do Nacional. O Unibanco também tem garantias porque, no comando do Nacional, pode avaliar a situação e o preço.
Em resumo, preservou-se a instituição. Mas a partilha da conta continua em aberto.
E a família Magalhães Pinto, na avaliação de especialistas, no mínimo perdeu muito tempo e permitiu a desvalorização de seu banco.
É possível que os donos do Nacional tenham exagerado no preço pedido.

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