São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995 |
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Moreira Salles vence revanche após 20 anos
LUÍS NASSIF
É um edifício elegante e discreto, do qual é possível avistar a mais deslumbrante paisagem da baía da Guanabara. Em outros andares, coabitam vultos da história mineira no Rio, reunidos anos atrás pelo incorporador e jornalista Paulo Pinheiro Chagas. O embaixador Moreira Salles transformou a pequena Casa Bancária Moreira Salles no Unibanco. O ex-governador Magalhães Pinto criou o Nacional. Sempre disputaram espaços na política e nos negócios. Mas, como era comum na velha Minas, a relação pessoal sempre ficou intocada. A incorporação do Nacional pelo Unibanco junta o caminho de ambos, mas define destinos distintos para suas organizações. O Unibanco vence uma revanche de 20 anos, quando perdeu o bonde para o Itaú, no ranking dos maiores bancos brasileiros, ao não conseguir incorporar o Banco União Comercial (BUC), em 75. Fruto de várias fusões, vítima de gestão temerária e em dificuldades, o BUC foi oferecido ao Unibanco. Quem preparou a proposta foi o advogado José Luiz Bulhões Pedreira -o mesmo que assessora os dois bancos na atual incorporação. Estava-se para bater o martelo quando a operação foi impedida por um diretor do Banco Central, Sérgio Ribeiro, ex-menino de ouro do Unibanco. Na ocasião, o banco ainda não havia terminado o processo de digestão do Banco Credial e Hipotecário do Rio de Janeiro. Alegava Ribeiro que possivelmente o Unibanco não teria condições, nem quadros, para encarar mais uma incorporação difícil. Alguns executivos do banco na época, como Roberto Teixeira da Costa, dão certa razão a Ribeiro. Outros, como Marcílio Marques Moreira, negam a dificuldade. O embaixador Moreira Salles jamais se conformou com o episódio. O fato é que a proposta preparada para o Unibanco foi apresentada ao Itaú. A saída de cena do Unibanco acabou conferindo urgência à operação, para evitar corrida contra o BUC. Para evitar a crise, o BC ofereceu vantagens adicionais para que o Itaú ficasse com o BUC -e conquistasse o segundo lugar no ranking nacional. Terminado o processo de fusões, o novo ranking bancário já estava consolidado, liderado pelo Bradesco e pelo Itaú. Aos demais bancos, restava aguardar o segundo tempo do jogo. Duas décadas depois, iniciada a nova rodada, cabe a Pedro Moreira Salles, filho do embaixador, conduzir a operação que repõe o Unibanco na rota perdida no início dos anos 70, permitindo-o transformar-se um dos maiores bancos privados brasileiros -colado ao Bradesco e ao Itaú. Já o Nacional perde sua última batalha. Nas décadas de 70 e 80 o banco perdeu o dinamismo. Transformou-se em organização permanentemente às voltas com problemas de descapitalização e imobilização excessiva. Na segunda metade dos anos 80, foram contratados executivos do Citibank para liderar o processo de reestruturação do Nacional. Em poucos anos, em muitos aspectos o Nacional se transformou em um dos melhores bancos do país. Uma gestão de recursos humanos extremamente criativa, a criação de indicadores de custos e de produtividade por agência bancária e investimentos em treinamento transformaram o Nacional em uma máquina de vendas. O Nacional dançou ao perder sua última aposta. Julgando que o Plano Real era irreversível, apostou tudo na expansão do crédito. Criou sistemas automáticos de liberação de empréstimos, e acabou trombando no festival de inadimplência que sacudiu o país. Executivos do banco garantem que havia provisionamento suficiente para cobrir a inadimplência. E que o Nacional vive apenas uma crise (embora grave) de liquidez, fruto dos reflexos do caso Econômico e da boataria que tomou conta do mercado. Vai se saber a verdade após cessado o regime de intervenção do BC. De qualquer modo, o Nacional morre esbanjando a melhor forma operacional de sua história. Texto Anterior: Veja como é a intervenção Índice |
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