São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Informatização também traz riscos

VERA BUENO DE AZEVEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem já quem teve o desprazer de conhecer o lado "perverso" da informatização sabe que, ao lado das facilidades, aumenta também a falta de controle do cliente sobre o seu dinheiro.
Operações feitas em caixas eletrônicos ou computador nem sempre podem ser comprovadas, pelo banco ou pelo cliente.
O resultado é que fica a palavra de um contra a de outro. "Se o extrato acusa o saque, com cartão, ele pode ter sido feito até por familiares, sem conhecimento do cliente", diz Jorge Higashino, diretor de serviços bancários da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos).
"Muitos reclamantes garantem que estavam de posse do cartão, em outro local, no momento em que o saque foi feito", diz Dinah Barreto, supervisora da área de assuntos financeiros do Procon-SP (Coordenadoria de Proteção e Defesa do Consumidor).
Nesse caso, vale o que está no contrato. E aquele que o cliente assina com o banco transfere para ele a responsabilidade por todas as operações feitas com o cartão.
Fraudes
Mas até onde vai a segurança dos sistemas de automação bancária? Há possibilidade de fraudes?
"Existem fraudes e acabar com todas é impossível", diz Higashino. Ele afirma, entretanto, que há grande preocupação dos bancos com a segurança dos sistemas.
Alto executivo de um grande banco -que pede para não ser identificado- diz que diariamente são descobertas fraudes feitas por funcionários da instituição.
Segundo ele, a mais comum é o débito de dinheiro de contas de clientes e seu crédito nas contas pessoais dos funcionários.
Não há, no Brasil, estatísticas sobre fraudes com automação bancária, afirma Carlos Alberto Antonio Caruso, autor de vários livros sobre segurança em informática.
Mas na Europa e nos Estados Unidos as fraudes causam um grande prejuízo anual aos bancos, afirma o especialista.
Segurança
O grau de garantia contra fraudes depende do sistema usado pelo banco e da qualidade e quantidade de auditores de segurança lógica que possui, diz Caruso.
Ele dá um exemplo: "Se um cliente usar um caixa eletrônico, sua conta pode ser 'grampeada' enquanto a senha trafega pela linha, por um funcionário".
"Mas se o sistema criptografar a senha, não há esse risco", diz. Suponha que o cliente digite a senha 567. Enquanto trafega pela linha, ela é 'falsificada' (codificada) para outros números, como 837. Só ao chegar no destino é decodificada para 567.
"Há sistemas paralelos de consistência e conferência das operações diárias, tanto por meio da automação quanto por intermédio de funcionários", afirma Higashino.
Ele diz que os sistemas vão sendo aperfeiçoados. "Mas os fraudadores também se aperfeiçoam, o que nos obriga a mudanças constantes em busca da segurança."
Defesa
Como a informatização dos bancos é um processo recente no Brasil, não existe uma lei específica de defesa para o consumidor, diz Dinah Barreto, do Procon-SP.
"Um mesmo problema pode ser enquadrado em várias leis diferentes", afirma Caruso.
"É a palavra do cliente contra a do banco", diz Dinah. "E o banco tem um contrato que dá pouco direito de defesa ao cliente."
"Vem agora o 'cartão inteligente', substituto do dinheiro. Coisa de Primeiro Mundo, num país onde os serviços são de Terceiro Mundo. Isso assusta", diz Dinah.

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