São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Aumentam vendas com caderneta nas mercearias

Estabilização de preços permite retomada do "fiado"

MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

A estabilidade dos preços está trazendo de volta o velho hábito de comprar com caderneta nas mercearias, padarias e açougues da cidade.
"Com a queda da inflação, cresceu o número de fregueses que querem comprar na caderneta", diz Pedro Calsavara, dono da mercearia Di-Carol, no Parque do Carmo, zona leste da capital.
Com um faturamento mensal de R$ 12 mil, atualmente ele tem 15 clientes que compram no sistema de caderneta.
O comerciante só não arrisca aumentar a "venda fiado" porque teme o calote da clientela.
Na prática, a venda com caderneta funciona como um negócio onde o dinheiro também é virtual, só que sem a sofisticação dos modernos cartões magnéticos.
No lugar da senha secreta, a base do negócio é a confiança entre o comprador e o vendedor.
O comerciante anota as compras em uma caderneta de papel e a dívida é quitada na data combinada com o cliente, normalmente duas vezes por mês.
Isto é, no dia 20, quando o trabalhador recebe o adiantamento, e no quinto dia útil, quando sai o salário.
"Normalmente dou 15 dias de prazo para o cliente pagar", diz Calsavara.
Ele diz que não impõe um valor mínimo de compras para quem usa o sistema de caderneta em sua mercearia.
"O freguês pode levar pão e leite ou uma lata de óleo na caderneta."
O que importa, diz ele, é a honestidade da pessoa. "Só vendo na caderneta para quem honra seus compromissos."
Desde maio, ele já cancelou a caderneta de cinco fregueses que não pagaram as contas.
Caderneta eletrônica
No início do ano que vem, os clientes da panificadora Casa Virgínia, na zona leste de São Paulo, vão poder fazer suas compras por meio da caderneta eletrônica.
Frederico Maia, sócio da empresa, conta que os clientes interessados em pagar a conta da padaria uma vez por mês vão ter um cartão eletrônico cadastrado no próprio estabelecimento.
Na hora da compra, o cliente apresenta apenas o cartão da padaria, que vai acumulando automaticamente o débito. Na data combinada, o freguês salda a dívida de uma só vez.
Segundo ele, o uso do cartão só foi viabilizado porque a sua empresa está informatizada.
Faz 20 anos que Maia deixou de vender com caderneta por causa da inflação alta.
"Com a estabilização dos preços vai ser possível retomar essa modalidade de vendas", diz ele.
A Casa Virgínia atende diariamente 2.700 clientes. Com esse novo sistema, Maia acredita que as vendas vão ganhar agilidade.

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