São Paulo, domingo, 19 de novembro de 1995
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Imigrante é defendido por filha de Le Pen

Libération
De Paris

DANIEL GROUSSARD

"Vou pedir uma audiência com o ministro do Interior. Assim não podemos continuar!" Na saída do tribunal de primeira instância de Aix-en-Provence, a advogada Marine Le Pen estava dividida entre a satisfação e a indignação.
Ela acabava de salvar mais uma vez seu cliente, Nourredine Hamidi, de ser expulso da França para a Argélia, mas sabia que a ameaça da "sentença ministerial de expulsão com urgência absoluta" ditada contra ele em 24 de agosto de 1971 continuava presente.
Nourredine Hamidi, 44, é oficialmente um imigrante clandestino. São exatamente esses imigrantes que Jean-Marie Le Pen não pára de criticar em seus discursos.
Marine é a filha caçula de Le Pen, militante da Frente Nacional e advogada de seu partido.
Ela não escolheu seu cliente. Foi encarregada da defesa há dois anos, quando ele compareceu à 23ª Câmara Correcional de Paris, acusado de estadia irregular.
"Não estou agindo em contradição com minhas idéias. A filosofia da Frente Nacional não defende a agressão contra os indivíduos. Às vezes, boas leis acarretam injustiças." E o caso de Nourredine Hamidi é, sem dúvida, um desses.
Nascido em Orã (Argélia), Hamidi chegou à França com 1 ano de idade e foi lá que estudou. Ainda era menor de idade quando, em 1971, um simples roubo de carro lhe valeu a sentença de expulsão.
Por isso, ele nunca mais poderá obter a nacionalidade francesa. Mas toda sua família vive legalmente na França, e ele não tem nenhum parente na Argélia.
Sete vezes seguidas os magistrados encarregados do caso de Hamidi se recusaram a sancionar a pena, mas, cada vez que ele encaminhava um pedido de regularização de sua situação na França, as autoridades voltavam a lhe aplicar a sentença de expulsão.
Sua última aventura atingiu o auge do absurdo. Interpelado pela polícia no dia 13 de outubro, Hamidi foi enviado a um centro de detenção, enquanto aguardava ser expulso. Após uma semana ele tentou suicídio. Foi libertado.
O procurador pediu o seu comparecimento diante do birô de estrangeiros. Mais uma vez lhe apresentaram a sentença de expulsão.
Algemado outra vez, o círculo vicioso recomeçou: prisão, centro de detenção, expulsão. Após ser colocado em um avião com destino a Argel, Hamidi conseguiu explicar seu caso ao comandante do avião, que se recusou a assumir responsabilidade por ele.
Hamidi saiu livre -até a próxima vez em que for parado num controle policial. Marine não está otimista em relação ao recurso contra a sentença de expulsão.
Em tom indignado, denuncia o Ministério do Interior, "que se recusa a retirar graciosamente a sentença de expulsão".

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