São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Mulheres sem medo do poder'

MARTA SUPLICY

Bem recentemente, em Beijing, o Brasil assinou compromissos importantes, dentre os quais "...adotar medidas que estimulem os partidos políticos a incorporar mulheres em postos eletivos e não-eletivos, na mesma proporção e nas mesmas categorias que os homens (...) e desenvolver mecanismos e proporcionar capacitação para estimular as mulheres a participar dos processos eleitorais, atividades políticas e outros setores... de direção."
Não demorou nem um mês para que o nosso país pudesse ostentar um grande passo nesse caminho. A nova legislação eleitoral aprovada pela Câmara Federal incorporou a obrigatoriedade de cota mínima de 20% de mulheres nas listas de candidatos à vereança em 96.
Foi decorrência da luta histórica das mulheres, que busquei refletir no projeto de lei sobre cota de 30%, apresentado em agosto com apoio de toda a bancada feminina federal. Mas esse avanço não significa que teremos 20%, no mínimo, de mulheres eleitas. Elas terão que passar pelo crivo dos partidos, das campanhas eleitorais, pelas eleições. Se levarmos em conta que, em muitos municípios, as mulheres nunca puderam ser candidatas, nas próximas eleições teremos uma revolução: dos esperados 500.000 candidatos a vereador, 100.000, no mínimo, serão mulheres.
Daí a Campanha Mulheres Sem Medo do Poder, cuja primeira etapa se realiza entre 14 de novembro e 15 de dezembro.
Nestes 30 dias, a Campanha buscará incentivar mulheres à filiação partidária (cujo prazo se encerra em 15 de dezembro), para que possamos ter, nas convenções partidárias de 96, muitas mulheres interferindo nas decisões e disputando em igualdade de condições com os homens a chance de serem candidatas. E impedindo que o preenchimento das cotas se faça de forma equivocada ou "para inglês ver" ou, ainda, seja um limite arbitrário.
Assim, as mulheres poderão demonstrar todo o seu potencial para a mudança dos rumos de nosso país, elevando o nível das campanhas municipais em 96, desmistificando a prática política, valorizando-a como essencial para a democracia. Em 96, a Campanha Mulheres Sem Medo do Poder pretende proporcionar jornadas de capacitação política às candidatas, orientada para temas de interesse geral, sem deixar de lado as especificidades do gênero. Mas caberá a cada partido, face a essa nova realidade, definir medidas concretas, tais como acesso a espaços na mídia e recursos para campanhas.
Concebida e coordenada suprapartidariamente por mulheres parlamentares, sindicalistas e integrantes de movimentos sociais, essa campanha deflagrará fatos políticos novos e se espalhará por todo o país. Sem medo de transformar o poder, nós, mulheres, em parceria com os homens, aceleraremos as transformações do mundo rumo à justiça, igualdade e paz.

Texto Anterior: Hanim do amor perdido
Próximo Texto: Mãe de Louise viaja para rever a filha
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.