São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
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O salto do Tigre

ANTÔNIO FERNANDO BURANI

Não faz muito tempo, há apenas três décadas, a etiqueta "made in" Coréia do Sul era praticamente desconhecida nos mercados internacionais. Também o país, distante mais de 20 mil quilômetros, praticamente não tinha vínculos com o Brasil. Hoje, a indústria da Coréia do Sul, o mais vigoroso Tigre entre os Tigres Asiáticos, desponta como padrão de qualidade mundial. E, a cada dia, fica mais próxima do mercado brasileiro. A mudança de posição no cenário mundial e das relações com o Brasil foi impulsionada por inúmeros fatores, que incluem o êxito de uma política econômica alicerçada nos incentivos aos investimentos privados, às exportações e à pesquisa tecnológica, bem como à educação, à distribuição de renda e à construção de moderna infra-estrutura.
A trajetória da Samsung serve de metáfora dos muitos avanços deste país, de milenar tradição agrícola, alçado, subitamente, à condição de potência industrial. Há 12 anos a empresa ocupava o 88º lugar no ranking das 500 maiores da revista "Fortune". Em 1986, passou para a 21ª posição. Agora, é a 14ª, com faturamento anual de US$ 63 bilhões. Atuando em negócios tão ecléticos como eletrônica e informática, telecomunicações e petroquímica, eletrodomésticos e construção naval, a Samsung lidera a corrida das empresas coreanas rumo à globalização.
É nesse contexto que devem ser vistos seus planos de investir cifras bastante expressivas no Brasil para ampliar, a partir da fábrica de Manaus e de uma nova unidade em local ainda a ser definido, as exportações para a América Latina. Somam-se 30 outros importantes grupos coreanos operando no Brasil, alguns com planos de investir bilhões de dólares nos próximos anos. Entre outros, estão a Asia Motors, Hyundai, Kia Motors, Gold Star e Daewoo. O resultado da aproximação é um saudável impulso no comércio bilateral. Nos últimos dois anos, saltou de US$ 1,5 bilhão para US$ 2,5 bilhões.
A ênfase às mudanças estruturais nos anos 60-80 fizeram a renda per capita da Coréia do Sul atingir quase US$ 10 mil. Foi um marco na história econômica. A Inglaterra, após a Revolução Industrial em 1780, consumiu 58 anos para duplicar a renda da população. Os EUA, a partir de 1835, precisaram de 47 anos, e o Japão, de 1885 em diante, de 35 anos. A Coréia precisou de apenas 11 anos, a partir de 1965. A taxa de crescimento do produto interno, projetada pelo Banco Mundial, oscila entre 5,3% e 7,6% ao ano, até 2003. Essa combinação vitoriosa dá sustentação a um novo ciclo de investimentos que tende a fazer do Brasil um parceiro de particular relevância.
É uma constatação que dispensa estatística. Está no dia-a-dia dos homens de negócios. Em recente viagem a Seul, como convidado da Convenção Mundial das Câmaras de Comércio Coreana 95, pude sentir, de perto, o interesse que o Brasil desperta. Fosse na Convenção, que reuniu representantes de 56 países e cerca de 500 participantes, fosse nas inúmeras fábricas e bancos que visitei.
Entre os homens de negócios, o Brasil é o país do presente. Um elo crucial entre a Coréia, o Mercosul e a América Latina. Que exibe as condições para afirmar-se como destacada base de produção, mão-de-obra, matérias-primas e posição geográfica estratégica. A Coréia, por sua vez, além de promissora fronteira de expansão, pode funcionar como uma porta de entrada para os negócios brasileiros na Ásia.
O objetivo comum, portanto, deve ser amplificar as vantagens comparativas. Sob esse aspecto, o desafio é aprender o sentido profundo da meta da Coréia do Sul de vir a ser uma nação avançada neste fim de século. Combinando estímulo aos investimentos e ao comércio com o intercâmbio tecnológico e determinação para construir alianças, a Coréia ambiciona assegurar mercados que ofereçam rentabilidade e segurança. É exatamente aí que está a fonte do magnetismo exercido pelo Brasil. Quanto maior for a certeza de que tais predicados são autênticos, maior será o estilo para o Tigre dar saltos à frente e impulsionar a aproximação desses dois mundos, aparentemente tão distantes, mas na realidade tão próximos.

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