São Paulo, segunda-feira, 20 de novembro de 1995
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Muller pensa e age por impulsos de laser

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Ainda outro dia Cafu concordava comigo: esse Muller é um jogador curioso; quando o torcedor começa a se incomodar com suas longas ausências, ele surge do nada para fazer o gol salvador ou a jogada decisiva.
Mas que ausências? Ao contrário do que muita gente pensa, na verdade, Muller nunca está ausente. Apenas move-se nas sombras da partida, nos bastidores do jogo, que é onde se tramam também as vitórias.
Guardadas as devidas proporções, a ação invisível de Muller me faz lembrar de Tostão na Copa do México, que inventou aquela história de jogar sem bola.
Só que Tostão, por força de uma lesão grave no olho e de sua baixa estatura, não podia dar-se ao luxo de trombar com os becões lá na área, como um Dario ou um Roberto Miranda, os centroavantes que ele deixou no banco.
Simplesmente, deslizava de um lado ao outro da área inimiga, movido por seus finos sensores e assentado na sua refinada habilidade com a perna esquerda.
Muller, não: rápido e forte, enfrenta, de costas, as duras marcações, das quais escapa, subitamente, para executar o toque de primeira, num lampejo, para o seu companheiro surgir sozinho na cara do goleiro, como ocorreu sábado, contra o União, no gol de Edílson. Ou, completar a vertiginosa tabelinha, com um remate mortífero, como no seu próprio gol, uma pequena obra-prima de reflexo e precisão.
Em suma: Muller pensa e age por impulsos de laser. Por isso, seu futebol escapa aos olhos do torcedor comum, que só consegue ver a sua falsa ausência.

Para o tricolor que lamenta a perda de Luisão para o Palmeiras, sugiro que preste mais atenção nesse menino Luciano, que sábado fez um dos dois gols na vitória do São Paulo sobre o Vitória. Seu talhe físico é, no máximo, de um meia, assim como a facilidade com que toca na bola. Mas tem o faro de artilheiro. Sob o comando de Telê, por certo, irá longe.

Túlio é o ponto de referência e o néon desse Botafogo que caminha com passos seguros em direção à classificação.
Mas não é o único fator de sucesso. A presença de Leandro, o mais completo dos nossos cabeças-de-área, no meio-campo é fundamental, assim como a parceria do incansável e rápido Donizete, lá na frente.
E mais: a distribuição simples e lógica que o técnico Autuori faz de seu time: destros, como Beto, pela direita; canhotos, como Sérgio Manoel, pela esquerda etc. Essas obviedades, às vezes, tão surpreendentes neste nosso pernóstico futebol.

Por falar em Tostão, o comentarista inspirou-se no médico para dar uma explicação singular sobre o futebol de Rob Baggio: o que falta ao craque do Milan para equiparar-se a Zico ou Maradona não é exatamente bola. Falta-lhe, isso sim, é aquela gana de vencedor. Talvez, por causa de seu temperamento pouco competitivo e muito mais contemplativo, que se expressa no budismo, por ele abraçado.
Mas, aqui entre nós, no jogo de ontem, contra o Parma, quando a bola caía aos seus pés, era o nirvana.

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