São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 1995
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Juiz e delegado não descartam ter sido usados

WILLIAM FRANÇA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Tanto o juiz Irineu de Oliveira Filho, 44 -que autorizou a escuta telefônica-, como o delegado Mário José de Oliveira Santos, 43 -que realizou o trabalho-, disseram à Folha que não descartam ter sido usados por alguém para conseguir a escuta. "Que realmente é estranho, é", afirmou o juiz.
Oliveira Filho disse ontem à Folha que, no dia 28 de agosto, deu a ordem para "grampear" os telefones do embaixador Júlio César Gomes dos Santos sem saber quem ele era.
"A única coisa que estranhei no pedido é que o suposto traficante de drogas morava no Lago Sul (bairro nobre de Brasília), o que é incomum", disse Oliveira Filho.
O juiz disse que só soube que havia sido feita escuta telefônica de um assessor de FHC quando ouviu as fitas gravadas, no dia 21 de setembro. Ele disse que não recebeu a transcrição das fitas antes por deficiência de pessoal da PF.
Nesse dia, o juiz -ao identificar nomes como o do senador José Sarney (PMDB-AP) nas gravações- disse que não viu indícios de tráfico de droga nas conversas e mandou suspender a escuta.
"Vi que as conversas poderiam resultar em indícios de outros crimes, que fugiam à minha competência, e decidi devolver as fitas à PF", afirmou.
O delegado, há 19 anos trabalhando na área de tóxicos da PF, disse ontem à noite à Folha que decidiu pedir a quebra de sigilo diante da insistência com que ele recebia as denúncias de que um certo "JC" fazia tráfico.
"Desde julho recebia telefonemas de tráfico naquele endereço. Como a gente carrega a pecha de não fazer nada em residência de luxo, resolvi investigar o que havia lá", disse Santos.
Inicialmente, o delegado disse que determinou uma "campana" (vigilância) na casa do embaixador. "Mas a rua é muito movimentada. A única saída era adotar a escuta", afirmou o delegado.

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