São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 1995
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Um banco único

Um banco único
Há no Brasil

Há no Brasil um banco único. É aquele que em última análise "banca" as instituições financeiras e que tenta decidir, sempre de forma discricionária, quando o risco do sistema torna-se intolerável. Esse banco único é o Banco Central.
É assim no mundo inteiro, diga-se de passagem. Os bancos centrais são "emprestadores de última instância", são o banco dos bancos.
O assunto é técnico, mas os momentos de crise revelam toda a dimensão política desse poder discricionário que, muitas vezes, chega a ser tachado como "quarto poder".
Entretanto, em meio aos problemas recentes tanto de gestão do BC quanto de fragilidade dos bancos brasileiros, salta à vista uma falta de informação e de transparência que, para pasmo sempre crescente da opinião pública, afeta até os técnicos do BC, esse banco singular.
O impacto sobre os mercados financeiros da decretação do Regime de Administração Especial Transitória no Banco Nacional evidencia esse fato delicado, para dizer o menos, do banco dos bancos saber menos do que devia a respeito das instituições ou da crise no sistema.
Os mercados surpreenderam-se não apenas com o tamanho do rombo estimado, mas também com o fato de que, semanas depois de uma convivência direta com o problema, saber-se afinal ainda tão pouco não apenas sobre o Nacional, mas também sobre quem pagará a conta. De novo, parece que haverá socialização de prejuízos.
Aos poucos, chegam ao conhecimento público detalhes que fazem apenas aumentar a complexidade do quebra-cabeças.
Afinal, mesmo os técnicos do Banco Central agora suspeitam de que o Nacional não tinha apenas problemas de liquidez, mas também sérios problemas patrimoniais, causados por má administração.
Ora, não seria atribuição do BC precisamente auditar regularmente as instituições para evitar a tempo a acumulação de descalabros?
É assim em outros países, como os EUA, onde o Fed disciplina e audita com frequência as instituições sob sua responsabilidade.
No Brasil, os técnicos do BC parecem ter dedicado mais tempo a conferir o respeito a normas burocráticas, isoladas, do que a efetivamente averiguar a saúde das operações dos bancos e do sistema.
Naturalmente, quando a informação é escassa ou desencontrada e, principalmente, quando até os mercados financeiros são surpreendidos, a insegurança aumenta.
Assim, há de um lado o fato positivo de que afinal de contas o banco dos bancos está agindo, entrando finalmente em cena para evitar um "mal maior". De outro lado, entretanto, há hoje menos clareza sobre quais seriam efetivamente as reais proporções disso que se supõe seja o mal maior.

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