São Paulo, terça-feira, 21 de novembro de 1995
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Tolerância

Apesar do recente episódio rapidamente apelidado pela mídia de "guerra santa", o Brasil é um país que, felizmente, parece de certa forma imune a esse tipo de conflito tão comum e tão sangrento em outras partes do mundo.
O fato de o Brasil ser um país de imigração é uma das causas dessa maior tolerância religiosa. O mesmo se verifica em outras nações com essa mesma característica: Austrália, Canadá, EUA. Trata-se de um fenômeno até natural, porque as populações desses países em muitos casos optaram por deixar as terras de seus ancestrais justamente por estarem sendo vítimas da intolerância religiosa.
As chamadas guerras santas são mais frequentes em lugares em que uma forte dicotomia religiosa passa a dividir um mesmo povo: Irlanda, Bósnia, Índia-Paquistão.
Uma prova de que a convivência pacífica entre pessoas dos mais diferentes credos é possível foi a experiência patrocinada por esta Folha de reunir jovens de sete religiões diferentes para debater o radicalismo. Descobriu-se que entre muçulmanos e judeus, budistas e católicos, evangélicos, espíritas e adeptos do Candomblé existem muito mais semelhanças do que divergências.
Católicos, evangélicos e muçulmanos tendem a ser mais conservadores na questão do sexo antes do casamento, mas todos estão de acordo com limitações ao aborto. Também houve consenso em relação a Deus: Ele é o mesmo, só muda de nome. Todos foram veementes na condenação da intolerância.
Não se trata, é óbvio, de uma experiência científica, e diferentes jovens poderiam ter dado diferentes opiniões. De qualquer forma, é alentador constatar que, pelo menos no Brasil, jovens de diferentes confissões são capazes de conversar civilizadamente sobre esse tema que desperta tantas paixões e concluir que não são tão diferentes assim. Mais importante, que a paz deve prevalecer.

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