São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1995
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Teste do BC

ANDRÉ LAHÓZ

O abalo por que vem passando o sistema financeiro nacional obriga o questionamento da atuação do Banco Central no episódio.
Corridas bancárias se assemelham às hiperinflações em um aspecto: o dinamismo do processo. Quando o pânico se generaliza, todos os agentes querem se defender, sacando seus recursos o mais rápido possível.
Dessa forma, o boato necessariamente vira fato.
Em outras palavras, nenhum banco consegue lutar contra uma perda generalizada de confiança. Pelo simples fato de que todo banco empresta mais do que dispõe.
Nas corridas bancárias, o tempo é uma variável fundamental. Semanas podem representar a diferença entre um banco sadio, um banco com problemas e um banco totalmente quebrado.
No caso do antigo Nacional, por exemplo, houve inúmeros saques nas duas últimas semanas. O rombo estimado pelo mercado (e, portanto, não-oficial) da instituição saltou de R$ 2 bilhões para R$ 5 bilhões.
É incompreensível, portanto, a demora do Banco Central em decretar o Raet (Regime de Administração Especial Temporária) no Nacional. O mesmo vale para as ações no Econômico e no Banespa -embora este último não tenha enfrentado corrida de saques e a crise tenha outra natureza.
O governo parece agir somente quando o barco já afundou, não restando mais nada a fazer além de catar os pedaços.
A explicação para a demora pode estar em dois níveis. O primeiro é simplesmente falta de agilidade. Quem se lembrar da atuação do BC na crise cambial de março verá que, realmente, parte do problema pode ser essa.
Nesse sentido, as novas regras dando mais poder para o Banco Central são necessárias.
De fato, se a crise bancária se generalizar, o prejuízo cresce exponencialmente. E o BC tem a obrigação de impedir qualquer crise nesses termos.
Até agora, o BC não tinha alternativas entre a intervenção (medida considerada extrema) e simplesmente não fazer nada. No caso do Econômico, o Banco Central acabou não fazendo nada, até que a intervenção se tornasse praticamente inevitável.
Com a medida provisória dos bancos, o BC tem poderes para intervir em qualquer instituição e modificar sua composição acionária a qualquer momento. Pode, em teoria, passar a evitar que a eventual crise de um banco se torne aguda.
Mas há, obviamente, uma dimensão política na atuação do BC.
O peso nacional de figuras como Fleury certamente contou na aprovação das antecipações de receitas do Estado de São Paulo (as operações de ARO), que ajudaram a deteriorar as contas públicas. O PMDB adiou ao máximo a intervenção no Banespa.
O mesmo vale para o senador Antônio Carlos Magalhães, na demora da intervenção no caso do banco Econômico.
O que se exige agora do Banco Central é agilidade e independência. Qualquer banco que eventualmente apresente problemas deve ser rapidamente saneado antes de o rombo crescer -o governo tem mecanismos para tanto. Afinal, já que dinheiro público será usado para ajudar banqueiros, espera-se que seja o mínimo possível.
Ao mesmo tempo, é preciso firmeza com os antigos donos de bancos com problemas, como o Nacional e o Econômico.

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