São Paulo, quarta-feira, 22 de novembro de 1995
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Geraldo Ataliba; Nacional; Equilíbrio de preço; Protesto engasgado; A falta da informação; Princípios editoriais; Deleuze

Geraldo Ataliba
"Belo artigo escreveu Carlos Velloso sobre Geraldo Ataliba (19/11). Uma justa homenagem a um amigo que, além de jurista ilustre, foi um homem público da melhor qualidade. Um homem indignado com a injustiça, entusiasmado com a vida. Também fui seu amigo. E seu colega, e seu cliente uma vez, e também seu assessor quando foi reitor da PUC de São Paulo e sugeriu meu nome para seu conselho curador. Fui também aluno de seu pai, outra figura cheia de vida com o qual aprendeu, como eu aprendi, o valor dos direitos individuais e da democracia. A morte prematura de Geraldo Ataliba foi uma perda para o Brasil."
Luiz Carlos Bresser Pereira, ministro da Administração e Reforma do Estado (São Paulo, SP)

Nacional
"A prevalecer a anunciada incorporação do Nacional, a pulverização anunciada das ações dos acionistas minoritários constituiria um ato abusivo dos autores, cujo fim deverá ser o mesmo dos similares da era Collor: o Judiciário vai se saturar de processos reivindicando reparação de danos, isto é, o respeito aos direitos dos pequenos. Fica difícil entender uma incorporação patrimonial de liquidado (como anunciado) ao acervo do Unibanco sem a correspondente reciprocidade de direitos dos acionistas. Pagaram a conta a sociedade, com o aporte de bilhões pelo Banco Central, os acionistas, com a zeragem de suas cautelas, os funcionários, com o sacrifício de seus empregos, sem que se tenha conhecimento da cota de participação da direção do Nacional. A outra hipótese indica o uso de eufemismo por parte do Banco Central, tendo havido mesmo uma liquidação extrajudicial. Nessa hipótese, as formalidades de liquidação e intervenção do BC não deveriam ser previamente aplicadas? A fiscalização contemplativa, força motriz da tradicional 'má gestão administrativa' (que em outras plagas recebe os nomes autênticos), será apurada?"
Adolfo Gerbatin (Rio de Janeiro, RJ)

Equilíbrio de preço
"O governo FHC pretende diminuir a cota de importação de produtos do Paraguai reduzindo de US$ 250 para US$ 150 o valor das mercadorias que os 'sacoleiros' trazem para o país. O sr. Everardo Maciel declarou na TV que essas viagens aos países vizinhos do Mercosul são de 'contrabando'. É lamentável que alguém representando a Receita venha com esse argumento falso para favorecer ainda mais o desequilíbrio de preços. A economia informal obriga a fixação de preços mais razoáveis no mercado interno. Para amenizar a falta de empregos, deixem que os pequenos comerciantes tragam para cá mercadorias que ajudarão a equilibrar o mercado, segundo a lei da oferta e da procura."
Tito Livio Fleury Martins (São Paulo, SP)

Protesto engasgado
"O sr. Aloysio Biondi descreveu com clareza o que está engasgado na garganta de milhares de brasileiros (13/11). Importante seria encaminhar o brilhante artigo aos nossos deputados e senadores para que eles, a partir de agora, legislassem segundo seus próprios princípios éticos, e respeitando a nós eleitores, que neles depositamos (talvez pela última vez) nosso voto de confiança."
Pedro Siciliano (São Paulo, SP)

A falta da informação
"A humildade dignifica a profissão. Não adianta criar desculpas que levem os leitores da Folha à ridícula situação de se sentirem idiotas. A Folha não atingiu o seu alvo, a informação não chegou aos lares dos leitores e não adianta jogar a culpa no assassino de Yitzhak Rabin porque, infelizmente, ele atingiu seu alvo."
Dimitri Sanjinés (São Paulo, SP)

"Argumentar que não recebi as notícias do sábado em meu jornal de domingo por causa do número de exemplares que tinham de ser impressos, a mim cheira a incompetência. Não sei e nem quero saber quantos exemplares a Folha imprime por domingo; tudo o que quero é que o único exemplar que eu compro me permita ficar bem informado! É um absurdo limitar minha informação dominical ao que aconteceu até as 10h30 do sábado em virtude das dificuldades operacionais da Folha."
Rogério Cukierman (Rio de Janeiro, RJ)

Princípios editoriais
"Queremos parabenizar os princípios editoriais da Folha, por manterem o compromisso de coerência e liberdade de opinião em conjunto com a imparcialidade na informação. Essa liberdade opinativa não implica, como pensam alguns, na ausência de uma posição definida sobre questões decisivas. Essa disposição pluralista não se confunde com pasmaceira, mas sim com a fidelidade aos princípios democráticos e liberais. A diversidade nas opiniões dos articulistas, ao contrário de contrastar com a linha editorial, a complementa. Isso faz a Folha angariar a simpatia dos mais variados segmentos ideológico-políticos. A Folha adota, há alguns anos, a figura do ombudsman. A presença desse auditor, apontando as falhas cotidianas, atesta o compromisso com a mais ampla liberdade de informação. A Folha exibe ainda uma valiosa e intensa ligação com as mais variadas produções e atividades do meio acadêmico. Por fim, a demonstração cabal de compromisso democrático radica na abertura a críticas que o próprio diretor editorial, Otavio Frias Filho, propicia nas temáticas que aborda, sempre com perspectivas originais e uma dose adequada de erudição. A Folha já transcendeu, há muito, a condição de mero contraponto do tradicional 'Estadão', para firmar uma nova tradição -a experiência democrática levada às suas últimas consequências na mídia impressa do Brasil."
Everton N. Jobim (Rio de Janeiro, RJ)

Deleuze
"Posso imaginar o riso de Gilles Deleuze se lhe caísse nas mãos um exemplar da Folha e ele visse estampado na primeira página, logo abaixo do título; na página 2, acima dos editoriais; e na página 4, em box do canto inferior esquerdo: um jornal a serviço do Brasil. Ele, que também busca pensar a mídia, e não sobre a mídia, rebentaria de rir diante desse lema. Pois, como Foucault, tinha um humor diabólico. Assim, a Folha acaba encostando na Rede Globo, que é o máximo de desserviço à inteligência e à ética, pois desinforma, omite, distorce, mistifica. Não vi o espaço que a Folha deu à morte de Deleuze. O que li a respeito foi o artigo de Carlos Heitor Cony, 'A morte do filósofo', na edição de 12/11. Curtinho, 30 linhas, mas bom artigo. Não sei que importância a Folha dá a um intelectual do calibre e da decência de Deleuze. Se lhe dá a importância devida, pois o pensamento dele, como o de Foucault, já é patrimônio do mundo, e por ser a Folha o único jornal brasileiro legível no momento, apesar de todos os equívocos que comete, correndo até o risco de se confundir com a Globo e de se tornar intolerável, faço uma sugestão: que o Mais! dedique uma edição a Deleuze antes de findar o ano. 'Toda vez que morre um grande pensador, os imbecis sentem-se aliviados e fazem um estardalhaço dos infernos.' Essa frase foi dita por Deleuze em entrevista ao 'Libération', edição de 2/9/86, a respeito da morte de Foucault (1984)."
Valdomiro Santana (Salvador, BA)

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