São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Para pastor, apreensão de drogas é suspeita

DA SUCURSAL DO RIO

O pastor Caio Fábio d'Araújo Filho, 41, disse ontem suspeitar do modo como a polícia informou ter achado cocaína e maconha na Fábrica de Esperança, em Acari, favela na zona norte do Rio.
Presidente da ONG (organização não-governamental) Vinde (Visão Nacional de Evangelização), que mantém a Fábrica de Esperança, o pastor afirmou que a ação policial lhe "pareceu carregada de elementos que geraram desconforto e suspeição".
Segundo o pastor, os policiais do 9º Batalhão da Polícia Militar foram direto anteontem ao lugar onde estavam os 2.090 sacolés (pequenos embrulhos) de cocaína e 97 trouxinhas de maconha.
"É um local tão inacessível que ninguém aqui o conhecia. Me pareceu uma telepatia muito suspeita", disse o pastor.
O governador do Rio, Marcello Alencar (PSDB), considerou as alegações equivocadas. "Não venham me dizer que ali passaram e deixaram a droga. Estavam é fazendo da fábrica um depósito de cocaína", disse Alencar.
O pastor criticou a declaração de Alencar. "O governador foi leviano, irresponsável e inconsequente. Isso não é declaração de um governador de Estado."
Alencar voltou a atacar ontem a fábrica, ameaçando fechá-la.
"Suspeito que aí tenha o fio de uma meada que não sei onde vai parar. A fábrica pode fechar, como instrumento equivocado de assistência."
O pastor pediu ontem à Procuradoria Geral de Justiça o acompanhamento das investigações policiais. Ele anunciou também o início de uma investigação sobre os 186 empregados da fábrica, a maior parte moradores da favela.
Caio Fábio recebeu a solidariedade de Herbert de Souza, o Betinho, coordenador da Ação da Cidadania Contra a Miséria e Pela Vida, do coordenador do movimento Viva Rio, Rubem César Fernandes, e de Caio Ferraz, que dirigia a Casa da Paz, que fechou ontem (leia texto ao lado).
Betinho enviou ao pastor flores e um bilhete, em que diz que o trabalho na Fábrica de Esperança "é feito em condições excepcionais em meio à mais profunda miséria". "O Rio sabe da sua admirável integridade", diz Betinho.

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