São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Jornalistas faziam dossiês de adversários

GABRIELA WOLTHERS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os jornalistas Augusto Fonseca e Mino Pedrosa receberam duas missões quando foram contratados para trabalhar na campanha eleitoral do então candidato Fernando Henrique Cardoso -a primeira, oficial, era auxiliar nos serviços de assessoria de imprensa.
A segunda, mais importante, era guardada a sete chaves pelo comando da campanha -Fonseca e Pedrosa foram encarregados de preparar dossiês contra os adversários de FHC na disputa eleitoral.
Naquela época, o comando de campanha já sabia das estreitas relações dos dois jornalistas com a comunidade de informações. O próprio Pedrosa confirmou essas relações quando disse que havia conseguido o dossiê contra o embaixador Júlio César Gomes dos Santos por intermédio de "fontes" da Polícia Federal.
Segundo a Folha apurou, pelo menos um dossiê chegou a ser concluído -contra o então candidato do PMDB à Presidência, Orestes Quércia.
As informações levantadas, que incluíam dados sobre a vida pessoal dos candidatos, não foram utilizadas pelo fato de o tucano ter disparado nas pesquisas de opinião desde o princípio.
Quando foram contratados, Fonseca e Pedrosa já eram sócios na empresa de comunicações Free Press, cujo principal objetivo era entrevistar autoridades do governo, sempre com a preocupação de vincular o candidato tucano ao Plano Real.
Mas, em agosto de 94, uma entrevista do diretor do Banco Central, Gustavo Franco, acabou criando confusão para FHC.
Franco afirmou que a vitória do então candidato do PT, Luís Inácio Lula da Silva, era um risco, pois ele daria um calote nos títulos da dívida interna. A declaração, considerada muito "politizada", foi desautorizada pela cúpula da campanha.
Quando FHC assumiu a Presidência, Fonseca e Pedrosa tentaram por diversas vezes vender seus trabalhos de assessoria para o governo. Chegaram a se reunir com o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, com esse objetivo -acabaram assinando contrato com o Ministério da Justiça.
Além disso, Fonseca conseguiu emprego como assessor de Francisco Graziano, no Incra. Eles se tornaram amigos durante a campanha, a ponto de Fonseca ter sido o escolhido para fazer o prefácio do livro de Graziano sobre a campanha -"O Real na Estrada", lançado no início do ano.
Augusto Fonseca nega que tenha preparado qualquer dossiê. "É mentira, a gente tinha assessoria de imprensa e agência de notícias e de fotografias", afirmou ontem.
A informação foi checada com dois assessores e um membro da cúpula da campanha.

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