São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Empresa de assessor trabalha para governo

ALEXANDRE SECCO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Augusto Fonseca, assessor de comunicação do presidente do Incra, Francisco Graziano, é sócio de uma empresa que presta serviços para o Ministério da Justiça. Fonseca e o sócio Mário Pedrosa, fotógrafo, trabalharam na capanha de Fernando Henrique à Presidência.
A lei nº 8.112, que regulamenta o funcionalismo público, impede esse tipo de relação. Fonseca, que é funcionário contratado pelo Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) desde outubro, precisaria ter se desligado de suas funções na empresa, a Free Press, para aceitar o cargo no governo.
O contrato mensal da Free Press é de R$ 11.440 para a produção de cerca de 500 fotografias por mês.
Com esse dinheiro é possível revelar e ampliar mais de 25 mil fotografias em formato 10 cm por 15 cm em máquinas de revelação expressa. Ainda sobram R$ 3.000 para a contratação de um fotógrafo (salário acima da média).
Normalmente esse tipo de cobertura fotográfica para órgãos do governo federal é feita pela Radiobrás, a agência oficial de notícias.
A Radiobrás não destacou um fotógrafo para as coberturas no Ministério da Justiça e por isso foi feita a concorrência.
Um consulta feita ontem à Junta Comercial do Distrito Federal aponta Fonseca como sócio-gerente da Free Press.
Essa empresa disputou uma concorrência com outras seis assessorias de comunicação para prestar serviços de fotografia ao Ministério da Justiça.
O deputado Augusto Carvalho (PPS-DF) afirmou que vai encaminhar uma representação ao Ministério Público Federal apontando a irregularidade.
Segundo Carvalho, "está claro que essa é uma situação ilegal. Esse contrato deve ser rompido e o dinheiro precisa ser devolvido para os cofres públicos", afirmou.
Outro lado
Fonseca disse ontem à Folha que "acha que está desligado de suas funções na Free Press. Mas disse não poder "afirmar com certeza" se o desligamento da empresa foi mesmo efetivado.
O assessor do Incra disse ter enviado uma carta para seus sócios informando-os de seu desligamento. Também não sabe, com certeza, se a empresa alterou os registros na Junta Comercial.
"Esses procedimentos burocráticos costumam ser complicados", disse o jornalista.
A assessoria de comunicação do Ministério da Justiça afirma que nos cadastros do governo não consta nenhum tipo de impedimento para contratar a Free Press.
Ainda segundo a assessoria, "se existe alguma irregularidade, essa é unilateral", isto é, foi cometida pela empresa.
Todos os personagens desse caso têm alguma ligação com o escândalo do "grampo de ligações telefônicas do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, ex-assessor do Palácio do Planalto.
O ministro da Justiça, Nelson Jobim, que contrata os serviços da Free Press. Graziano é chefe de Fonseca e está sendo apontado por Jobim como o responsável pela solicitação à Polícia Federal para realizar a escuta telefônica, que provocou a maior crise política do governo Fernando Henrique.

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