São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Costantini já investiu US$ 5,7 mi neste ano

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

Só em 95, o argentino Eduardo Costantini, 48, investiu pelo menos US$ 5,7 milhões no incremento de sua coleção de obras de grandes artistas latino-americanos.
A última aquisição foi o célebre quadro "Abaporu", da pintora brasileira Tarsila do Amaral. A obra foi arrematada na Christie's, em Nova York, por US$ 1,4 milhão -com mais US$ 200 mil de comissão para a casa.
Em maio, Costantini deu um lance ainda maior. Gastou US$ 3,2 milhões pela tela "Retrato con Mono y Loro", da mexicana Frida Khalo (1907-1954). Na mesma semana, comprou uma pintura do construtivista uruguaio Joaquín Torres García por US$ 920 mil.
Em seu país, Costantini resgata um hábito de famílias miliardárias do início do século, compor seu acervo particular de obras de arte.
A coleção de Costantini começou a ser formada há 20 anos, quando ele iniciou sua trajetória no mercado financeiro argentino.
Segundo marchands de Buenos Aires, Costantini primeiro formou um acervo com obras dos grandes artistas plásticos argentinos.
Satisfeito com as aquisições, há alguns anos passou a se dedicar a compor uma pinacoteca mais ampla. Sua ambição era agregar as melhores obras dos melhores mestres da pintura latino-americana.
Em outubro de 93, ele comprou "Canción del Pueblo", obra do figurativista argentino Emilio Pettoruti, uma das mais caras do mercado local. Custou US$ 320 mil.
Costantini possui, hoje, obras dos argentinos Xul Solar, Antonio Berni e Rafael Barradas e dos uruguaios Torres García e Pedro Figari -além de Tarsila do Amaral e Frida Khalo.
Suas obras de maior valor, entretanto, não são transferidas para a Argentina. O motivo é simples: a entrada de bens artísticos no país é taxada em 30% de seu valor.
Costantini disse a amigos que espera que seu acervo seja doado ao Estado depois de sua morte.
No final do ano passado, Costantini conseguiu maior notoriedade nos meios financeiros argentinos ao prever a crise mexicana e evitar um desastre para seus clientes -e para sua própria empresa.
Ele é dono da Consultatio Asset Management, organização que administra o Latin America Fund, fundos formados por um grupo fechado de investidores.
Cerca de 15 dias antes da desvalorização do peso mexicano, ele avaliou o cenário e tirou o dinheiro do Latin America Fund aplicado em ações na Argentina. "Previmos a queda do peso mexicano e pegamos a crise completamente desaplicados", disse ao jornal "Gazeta Mercantil", em abril.
Nesta época, ele também afirmou que o perigo já havia passado, enquanto o mercado previa uma quebradeira geral de empresas no país. Acertou novamente.
Costantini foi sócio e presidente de um dos principais bancos argentinos, o Francés. Vendeu sua parte, no início dos anos 80, por mais de US$ 60 milhões.
Em seguida, foi um dos criadores da Consultatio, que hoje possui uma carteira de investimentos da ordem de US$ 200 milhões e que garante um rendimento médio anual a seus clientes de 44%.
Nos meios financeiros, ele atrai a atenção pela ausência da formalidade ao se vestir. Frequenta reuniões com jeans e blazer -nada estranho para um argentino que costuma virar surfista nos verões em Punta del Este, no Uruguai.

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