São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Brissac faz mapeamento da metrópole

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não poderia ter sido mais francesa a palestra que Nelson Brissac Peixoto, curador do projeto Arte/Cidade e professor da PUC-SP, fez anteontem à noite, no Centro Universitário Maria Antonia, dentro do ciclo "A Crise da Razão" que a Funarte promove no Rio e em São Paulo.
O título da sua conferência era "Cidades Desmedidas", e o propósito do conferencista, mapear a situação atual da arquitetura a partir de uma reflexão sobre a metrópole contemporânea, tomada em seu conceito genérico.
O que Brissac fez, na verdade, foi retomar o mote de antigos trabalhos seus, como o livro "Cenários em Ruínas" (1987) e a série "América" (1989), feita para a TV e inspirada pelo livro homônimo de Jean Baudrillard, escrito três anos antes.
Baudrillard não foi citado, mas várias expressões bem suas, como "a desertificação do espaço" ou a "experiência fantasmática" da cidade contemporânea, pontuaram a fala de Brissac.
Sua exposição partiu da oposição entre a metrópole clássica -cujo espaço seria homogêneo, contínuo, adequado à idéia de projeto- e a metrópole contemporânea -atravessada por "intervalos, vazios, espelhamentos, hiatos na narrativa urbana", que comprometeriam a própria noção de arquitetura enquanto construção de um lugar habitável.
As grandes cidades de hoje seriam o exemplo vivo de que perdemos o controle do espaço, a medida, o senso de proporção, a própria idéia de razão. A sucessão frenética de estilos e a convivência gratuita entre eles indicam que estes são tempos pós-modernos.
A imagem da Torre de Babel é, segundo Brissac, a que melhor define o princípio da arquitetura contemporânea. Nela, a desordem, o tumulto e a balbúrdia prevalecem. A impossibilidade de comunicação indicaria a equivalência entre projeto e ruína, entre vontade e fracasso, entre intuito de construir e impossibilidade de concluir qualquer coisa.
Feito o diagnóstico e revelada a matáfora mais cabal da "cidade desmedida", Brissac voltou a recorrer às formulações do novo pensamento francês para concluir sua palestra.
Evocou Roland Barthes, citou passagens de François Lyotard, que teorizou sobre o fenômeno pós-moderno, e deu finalmente a palavra a Jacques Derrida, o papa do desconstrutivismo e mais badalado filósofo da atualidade.
Mais do que uma reflexão sobre a face arquitetônica da crise da razão contemporânea, a palestra de Brissac se revelou um esforço -bem-sucedido em seus propósitos- para provar que nós, brasileiros, somos capazes de reproduzir as idéias mais frescas vindas da metrópole, mesmo quando estas insistem em confundir e puxar o tapete de qualquer criatura bem-intencionada, que só quer, afinal, definir melhor o que é isso que chamamos de barbárie.

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