São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Plebiscito sobre a aprovação do divórcio divide os irlandeses

OTÁVIO DIAS
DE LONDRES

Pela segunda vez em menos de dez anos, os irlandeses foram às urnas ontem para decidir se o divórcio deve ser permitido no país.
O resultado do plebiscito só será conhecido hoje, mas pesquisas de opinião realizadas no início da semana mostraram empate técnico entre os que são favoráveis e os que são contrários à liberação do divórcio.
A Irlanda, onde 95% da população é católica, é o único país-membro da União Européia que proíbe o divórcio.
Em setembro último, as pesquisas mostravam que 61% dos cerca de 2,6 milhões de eleitores do país estavam inclinados a dizer "sim" ao divórcio. Às vésperas da votação, este número caiu para 45%, segundo as últimas pesquisas.
Em contrapartida, a porcentagem dos irlandeses inclinados a dizer "não" teria subido de 30%, em setembro, para 42% no começo da semana.
Em 1986, quando foi realizado referendo semelhante, 63,1% do eleitorado irlandês posicionou-se contrário à alteração do artigo da Constituição da Irlanda que proíbe a dissolução do casamento, datado de 1937.
A divisão na opinião pública irlandesa reflete o conflito entre a Igreja Católica e o Estado em relação à questão.
Durante a campanha para o plebiscito de ontem, o governo e todos os seis partidos políticos irlandeses, inclusive os de oposição, posicionaram-se a favor da mudança na Constituição.
A Igreja, no entanto, ao lado de diversas associações de defesa da família, promoveu intensa campanha contra a alteração.
"Alô divórcio, adeus papai", foi um dos lemas de campanha dos irlandeses partidários a favor da permanência da lei.
"Nosso Salvador nos mostrou como a natureza do amor que une o homem e a mulher no casamento, e o bem-estar das crianças, chama pela total fidelidade e pela unidade indissolúvel entre o homem e a mulher", disse o papa João Paulo 2º na última quarta-feira, durante pregação a fiéis irlandeses em Roma.
Os partidários do "sim" afirmam que a liberação do divórcio ajudaria o processo de paz na Irlanda do Norte e facilitaria uma eventual união das duas Irlandas no futuro. Cerca de 42% da população da Irlanda do Norte é protestante, religião em que o divórcio é permitido.
"Um voto pelo sim é um voto pela compreensão e pela generosidade, um voto por um país mais pluralista e tolerante", afirmou o primeiro-ministro da Irlanda, John Bruton, durante a campanha.
O chefe de governo irlandês também defende maior distinção entre Igreja e Estado.
Se o "sim" vence hoje, um casal poderá se divorciar se tiver vivido separado durante quatro dos cinco anos anteriores e após mostrar não haver nenhuma chance de reconciliação.
Segundo estimativas, entre 75 mil e 80 mil casais vivem separados hoje na Irlanda.

Texto Anterior: Rebelde enterra carga radiativa em Moscou
Próximo Texto: Diana é xingada na Argentina
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.