São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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Em busca do possível; Sivam; Vida conjugal em debate; Reforma do ensino; Sem veto; Resistência ao vazio

Em busca do possível
"Perfeito, sem retoques, o artigo 'Emenda pior que a emenda', de Clóvis Rossi (10/11). O bom senso voltou à mesa de entendimentos entre o governo e o Congresso. Isso será bom para o país. Concordo que nossa proposta de reforma está longe de ser ideal. A do deputado Eduardo Jorge, do PT, era um pouco mais radical. Mas trabalha-se o possível, observando a realidade brasileira. A reforma inspira-se no modelo universal de previdência e segue o modelo da conciliação nacional."
Reinhold Stephanes, ministro da Previdência e Assistência Social (Brasília, DF)

Sivam
"É de estranhar que a maioria de nossa imprensa esteja fazendo coro com o governo no caso da escuta no Planalto, onde instalou-se a discussão sobre quem mandou colocar os 'grampos', e está-se deixando de lado o fato principal, ou seja, o que a escuta descobriu."
Gilberto Rios (São Paulo, SP)

"Tenho um amigo, baixinho, que gosta de armar uma confusão. Cria casos, convida os grandes para brigar, mas sempre o faz quando está por perto a turma do 'deixa-disso'. Depois de agarrado, ele esbraveja: 'Me segura senão eu brigo!'. Nosso governo federal demonstra ser igual ao baixinho conhecido meu. Quer transparência, mas esconde fatos; quer moralidade, mas revela-se contrariado quando descobrem sujeiras. A contrariedade do presidente deveria voltar-se contra os suspeitos e/ou infratores."
Antônio Mesquita Galvão (Canoas, RS)

Vida conjugal em debate
"Causa-me indignação o fato de toda a imprensa noticiar sobre a vida conjugal do príncipe Charles e a princesa Diana. Creio que relatos da vida alheia nada têm a acrescentar ao nível cultural do cidadão. Existem coisas mais úteis para serem noticiadas, como a campanha contra a fome."
Marcos Moreno (Varginha, MG)

Reforma do ensino
"O deputado César Callegari comete equívocos em seu texto, na Folha de 13/11, sobre o projeto de reforma do ensino público em São Paulo. A reforma pretende reorganizar os recursos humanos e patrimoniais para evitar desperdícios. Na etapa seguinte, os recursos obtidos no próprio sistema serão reinvestidos na melhoria salarial do professorado e na aquisição de equipamento escolar. Não podemos aceitar a crítica de que a proposta 'não foi discutida'. Na campanha eleitoral do ano passado o programa de governo de Mário Covas deixou explícita sua intenção de descentralizar e reorganizar o equipamento escolar do Estado. Nos dias 7, 8, 9 e 10 deste mês foram realizados seminários com os diretores da rede para discussão do plano. Cartilhas estão sendo distribuídas com esclarecimentos aos pais, professores e estudantes. Quanto à escola única ser um 'modelo consagrado', de fato é o modelo do fracasso e da ineficiência. É natural que um projeto do governo sofra a oposição das forças que estão fora do governo. Há porém um detalhe: educação é assunto sério demais para ficar à mercê de grupos de pressão e ressentimentos políticos ou pessoais."
Walter Feldman, deputado estadual (PSDB) e líder do governo na Assembléia (São Paulo, SP)

Sem veto
"Com relação à reportagem 'Cartilha vetada por Ministério será distribuída' (10/11), venho esclarecer o seguinte: nunca houve qualquer veto do Ministério da Educação à cartilha 'A vida de Zumbi dos Palmares'. O que houve foi um parecer da funcionária da Secretaria de Educação Fundamental do Ministério da Educação Maria Rocha Ledo Jones falando de 'erros gramaticais, erros históricos e conceituais, bem como definições equivocadas e afirmações falsas'. O parecer não foi considerado pelas suas superioras Maria José Magalhães Pereira (diretora do Departamento de Desenvolvimento de Sistema de Ensino) e Iara Alves (secretária de Educação Fundamental). Os repórteres transformaram o parecer em algo que não podia ser: um veto do MEC. Seria um absurdo o MEC vetar-se a si próprio."
Joel Rufino dos Santos, presidente da Fundação Cultural Palmares do Ministério da Cultura (Brasília, DF)

Resistência ao vazio
"Antes de iniciar a resposta gostaria de informar aos leitores que tentei insistentemente publicar esta resposta no 'Caderno 2' do jornal 'O Estado de S.Paulo', que me negou o direito de resposta. O 'Caderno 2' publica em 21/11 reportagem fazendo uma crítica apocalíptica ao 'Festival do Minuto'. O jornalista Luis Carlos Merten começa elogiando o Festival em seu crescimento para depois afirmar que o mesmo 'expõe uma crise de criação', conforme sugere o título. Já Antonio Gonsalves Filho, em texto anexo, vai mais longe quando escreve sobre o 'Minuto Kids': 'As crianças simplesmente reproduzem o tedioso mundo dos adultos'; 'geração incapaz de rejeitar o número de série que colocaram em suas cabeças, comportam-se como autômatos'. Não sei se na época em que Antonio era criança o mundo era mais legal que hoje... Sei que a oportunidade que essas crianças têm de se tornarem produtores e não só consumidores de imagens é algo fantástico e surpreendente. Por elas não saberem direito apertar os botões são levadas a soluções criativas e a erros que logo incorporam-se à narrativa sem nenhuma culpa. Se a televisão tivesse 10% dessa espontaneidade e despreocupação em errar, ela seria 100% mais divertida. Portanto é incorreto dizer que as crianças reproduzem o mundo adulto. São diretas e ousadas ao discutir temas de seu cotidiano escolar, familiar e social com muitos questionamentos e bom humor, características que geralmente não combinam com adultos. Não acho que a humanidade passe por nenhuma fase especial onde abunde tédio ou criatividade. Creio sim que atravessamos uma crise de adaptação tecnológica. A partir da década de 80, humanos em geral estão convivendo com uma infinidade de novos meios e formas de se comunicar. Estamos apenas começando a nos familiarizar com essa enxurrada de botõezinhos que passam a conviver conosco a cada esquina de nosso dia. Isso com certeza causa um certo estranhamento de um lado e um lambuzar por outro, o efeito gratuito em detrimento da idéia inexistente. Não é isso que encontramos na mostra 'Minuto Adulto' ou 'Kids'. Pelo contrário, o 'Festival do Minuto', obrigando ao exercício da síntese, faz também um exercício de resistência ao vazio, ao gratuito, à saturação da informação... É um espaço privilegiado onde profissionais e amadores de diversos cantos do planeta confrontam seus equipamentos, idéias, idades e sensibilidades..."
Marcelo Masagão, coordenador do Festival do Minuto (São Paulo, SP)

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