São Paulo, sábado, 25 de novembro de 1995
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São Paulo e Mariana

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Erramos: 28/11/95
Dentro de poucos dias as duas dioceses de São Paulo e Mariana completam 250 anos de sua criação pela bula pontifícia de Bento XIV "Candor Lucis Aeternae", de 6/12/1745. Até então, no Brasil havia apenas cinco dioceses: Bahia (1555), Rio de Janeiro (1676), Olinda (1676), Maranhão (1677) e Pará (1719).
Louvamos a Deus pelos dois séculos e meio de graças recebidas e pelo trabalho pastoral realizado nas duas dioceses irmãs. A igreja de São Paulo conta ao longo de sua história 12 bispos e 5 arcebispos. Lembremos do cardeal d. Agnelo Rossi, falecido no ano passado, que esteve à frente da Arquidiocese por seis anos e foi chamado por Paulo 6º a Roma, para presidir a Congregação para a Evangelização dos Povos.
De todos conhecido é d. Paulo Evaristo Arns, 3º cardeal, que completa, neste mesmo ano, o jubileu de ouro de sacerdócio e 15 anos de arcebispo da maior cidade da América Latina. Franciscano, doutor em patrística e letras clássicas, autor de 48 livros, revelou-se pastor zeloso e amigo.
Assumiu, com coragem, a defesa dos direitos humanos à luz do Evangelho, conseguindo aliar em seu incansável pastoreio a solicitude pelos mais pobres, o diálogo com irmãos de outras crenças, a atuação constante nos meios de comunicação, levando a todos mensagem de vida e esperança.
Na mesma data, engalana-se a Arquidiocese de Mariana para agradecer a Deus o patrimônio de fé e religiosidade de seu povo. A Sé de Mariana foi governada por oito bispos e quatro arcebispos. O primeiro bispo, d. Frei Manuel da Cruz, cisterciense, veio do Maranhão, viajando durante 14 meses pelo interior brasileiro até chegar à Vila de Nossa Senhora do Ribeirão do Carmo que, em 1745, passou a se chamar Mariana, em homenagem a dona Maria Ana d'Áustria, esposa de d. João 5º.
Mons. Flávio Carneiro, professor conhecedor da história de Mariana, resume a sucessão dos pastores afirmando que "todos empunharam o báculo com zelo e dignidade, seguindo o divino esplendor do Evangelho". Revelam traços comuns: a devoção à Virgem Maria, a adesão ao Romano Pontífice, a fidelidade à doutrina e o cuidado constante com o seminário e as vocações.
Sobressai a figura de d. Antonio José Ferreira Viçoso (1844-1896), lazarista e exímio pregador da palavra de Deus, formador do clero e que teve a graça de ordenar 316 sacerdotes, destemido defensor de escravos, pobres e oprimidos. O processo de reconhecimento da santidade de sua vida encontra-se adiantado.
Merecida homenagem cabe a d. Oscar de Oliveira, arcebispo emérito, amigo do clero e do povo, que sagrou uma centena de igrejas, escritor e cultor das artes, abriu quatro museus, reavendo os valores da música e imagens barrocas e a todos animou com o testemunho de sua vida.
Hoje vamos -as duas arquidioceses onde Deus me colocou-, em São Paulo e Mariana, colhendo o que outros antes plantaram e aprendendo com eles a assumir os novos desafios da grande cidade paulista, das áreas rurais, montanhosas e históricas de Mariana, cada vez mais próximas pelas antenas parabólicas que, aos poucos, unificam problemas e anseios do povo.
As comunidades de São Paulo e Mariana, ao se unirem para agradecer a Deus o caminho destes 250 anos, recordam não só os pastores intrépidos e zelosos, mas o testemunho de leigos, religiosos e sacerdotes que, com amor, anunciaram e continuam, em nossos dias, proclamando a firme esperança no Reino de Deus.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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