São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Amigos e lobby ajudaram Líder a crescer

XICO SÁ; PAULO PEIXOTO
DA REPORTAGEM LOCAL

PAULO PEIXOTO
O comandante José Afonso Assumpção, 61, chegou à condição de dono da maior empresa de táxi aéreo do país, a Líder, com a ajuda e influência de uma vasta rede de amizades e lobby junto ao governo.
Qualquer governo: desde a gestão de Magalhães Pinto em Minas Gerais, no início da década de 60, até a administração de Fernando Henrique Cardoso, passando, com certo estardalhaço, pela curta gestão de Collor de Mello.
Foi a empresa quem presenteou presenteou Collor, tão logo eleito, com o famoso vôo de descanso nas Ilhas Seicheles.
Nessa época, conseguiu manter os seus vínculos com a administração federal e serviu principalmente empresas estatais com seus vôos.
No atual governo, faz o serviço de lobby como representante da Raytheon, empresa americana responsável pelo Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia).
Bastidores
Entre os anos 60 e hoje, o comandante colecionou muitas histórias nos bastidores do poder. No governo Magalhães Pinto, obteve financiamentos do BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais) para comprar, de uma só vez, 12 aviões Cessnas.
Era o começo do império da Líder. Na atual administração federal, tentava recentemente fazer andar o projeto Sivam e se recuperar com isso de uma rápida pane financeira pela qual passa a sua empresa aérea.
Outro negócio em fase de fechamento seria a renovação da frota dos aviões que servem aos ministros.
Amigo de assessores do Palácio do Planalto, como o embaixador Júlio César Gomes dos Santos, e do ex-ministro da Aeronáutica Mauro Gandra, o comandante tentava também apressar a instalação dos radares na Amazônia.
Uma escuta telefônica feita pela Polícia Federal tornou público o seu trabalho. Na conversa com o embaixador Júlio César, tratava sobre o Sivam e citava também a renovação da frota dos ministérios.
Diz que tudo não passou de uma brincadeira e que não havia intenção de se beneficiar do que pode ser caracterizado como crime de tráfico de influência.
Mas foi o próprio comandante Assumpção que anunciou, no dia 3 de janeiro deste ano, ao firmar um contrato com a Raytheon, que a associação com os americanos seria a oportunidade para se recuperar financeiramente no mercado da aviação.
Para Assumpção, a parceria, que inclui também a venda de aeronaves da Raytheon no Brasil, poderia fazer dobrar o seu faturamento anual, voltando aos índices de 1989, ano de campanha eleitoral para a Presidência.
A empresa faturou no ano passado US$ 40 milhões. Obteve lucro líquido de R$ 11,8 milhões, mas tem o patrimônio líquido negativo (R$ -9,6 milhões). A Líder fechou o ano com dívida financeira de R$ 14,5 milhões.
Assumpção estima que, em 1997, o faturamento de seu negócio pode chegar a US$ 75 milhões.
Com aproximadamente 670 funcionários, a Líder possui atualmente cerca de 30 aeronaves, entre jatos e helicópteros.
A parceria com a Raytheon foi concretizada no final de 1994, mas o relacionamento entre as duas empresas já existia desde 1991, quando a Líder representou o grupo norte-americano na apresentação de propostas para a montagem do projeto Sivam.
Assumpção, segundo apurou a Folha, teve influência ponderável, graças ao seu trabalho de representante dos americanos, na opção do governo Itamar Franco pelos equipamentos da Raytheon.
Quando o Sivam começou a ser planejado pela SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), durante a gestão Collor (1990-92), a vitória da empresa francesa Thomson era dada como certa no governo.
Separação
Pai de quatro filhos, Assumpção separou-se da mulher, Beatriz Piacenza Assumpção, há cinco anos. Para não perder o controle acionário da empresa, fez um acordo, já que os seus quatro filhos apoiavam a mãe.
A separação ocorreu de fato, mas não de direito. Pelo acordo, o filho do casal assumiria o comando da empresa.
Com o Plano Collor, as coisas na empresa pioraram e o pai acabou retornando para evitar prejuízos maiores. O filho hoje é o vice-presidente da Líder Táxi Aéreo.
"Não há problema entre nós", disse Beatriz à Folha. "Desconheço as suas atividades, não sei de nada contra ele".

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