São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Shopping atrai moradores de rua

Maioria ganha vida com gorjetas

KENNEDY ALENCAR
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar de ser o melhor distrito de São Paulo, Moema também apresenta problemas. Um deles é a população de rua, que é atraída pelo movimento na praça Nossa Senhora Aparecida e no shopping Ibirapuera.
Francisco Barbará, 42, vive na rua há cinco anos. Toma conta de carros na praça. Até 11h da manhã de segunda-feira, dia 13, havia ganho R$ 0,25 centavos. "Segunda-feira não vale nada. Às vezes, não dá para comer nada, tem que ficar só na água."
Segundo ele, domingo é o melhor dia porque a missa é mais frequentada. Afirma que chega a ganhar R$ 20,00 quando o movimento é bom.
Nascido em Maringá (PR), ele conta que chegou a São Paulo há 25 anos. Diz que foi servente de pedreiro e que já teve a carteira de trabalho assinada.
Barbará dorme em um posto de gasolina na rua Afonso Brás. Separado da mulher, diz que visita os filhos em Osasco (12 km a oeste de SP). "De vez em quando, apareço lá com um quilo de arroz", conta. Estudou até o segundo ano primário: "Sei ler mais ou menos".
Atrás do shopping, na alameda dos Jurupis, vivem outros moradores de rua. São cinco garotos e um cachorro, que não tem nome.
Cláudio Roberto Rodrigues, 22, é o líder do grupo. Ele toma conta de carros. Vive na rua há nove anos. "Briguei com o meu padrasto e resolvi seguir o meu caminho", diz.
Alexandre Muniz dos Santos, 8, o "Buiú", abandonou a primeira série primária. "O Buiú passa uns tempos sumidos e depois aparece", conta Cláudio. A família de Buiú vive no Jardim Miriam, na zona sul. O garoto diz que, às vezes, vai ver a mãe.
Antonio Marcos, 19, não quis falar o sobrenome. Encheu os olhos d'água quando contou que brigou com a madrasta e saiu de casa aos 13 anos. "Eu trocaria de vida na hora", diz, respondendo se lhe fosse oferecida a chance de estudar e ter uma família.
Daniel da Silva Pereira, 17, afirma que seus pais morreram e apenas tem um irmão, que mora na Cidade Tiradentes.
"Tem muito tempo que não vejo ele", diz.
José Carlos Donizete, 14, diz que não quer conversar. Perguntado sobre a família, ele fica calado. Depois, diz: "Acho que tem uns quatro anos que moro na rua".
(KA)

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