São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995 |
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Tradição familiar dificulta fusões bancárias
MILTON GAMEZ
"O Banorte não está à venda (...) e foi vítima, nos últimos dias, de boatos infundados segundo os quais diferentes bancos estariam negociando sua compra", afirmou o banqueiro pernambucano em nota enviada aos jornais. O dilema de Jorge Amorim, no entanto, é bem diferente daquele vivido pelos ex-colegas Ângelo Calmon de Sá e Marcos Magalhães Pinto, que negaram a venda de seus bancos até a véspera da intervenção do Banco Central. Ao contrário do que aconteceu com os graúdos Econômico e Nacional, o pequeno Banorte parece não estar correndo contra o tempo para manter-se de pé. Está, ao que tudo indica, sendo assediado por potenciais compradores na nova corrida das fusões e aquisições de bancos do país. Último banco privado importante no Nordeste -onde tem 53 de suas 83 agências-, o Banorte empenha-se em ocupar o vácuo deixado pelo Econômico e, por isso, atrai a atenção dos concorrentes, avalia o banqueiro Jorge Amorim. O caso do banqueiro nordestino, cuja família está no negócio há mais de 50 anos, realça uma característica marcante da estirpe bancária brasileira: o apego à cartola e ao controle das companhias. À exceção notória do Bradesco, praticamente todos os bancos privados brasileiros são familiares, sob o comando dos fundadores ou de seus filhos. A maioria tem a gestão executiva profissionalizada, mas os donos continuam dando as principais cartas do jogo. Que o digam Roberto Setubal, filho de Olavo Setubal e presidente do Itaú, e Pedro Moreira Salles, herdeiro de Walter Moreira Salles, à frente do Unibanco. Ou, ainda, como provam os banqueiros Aluízio Faria (Real), Gastão Vidigal (Mercantil de São Paulo), Pedro Conde (BCN) e outros. Todos negam que seus bancos estejam à venda e, quando cogitam associações, esbarram na divisão do poder na instituição resultante da fusão. "Os banqueiros, por natureza, sempre tentam tirar vantagem em tudo. Mesmo que a situação de seus bancos não seja boa, eles lutam até o fim pelas melhores condições", comenta o consultor João Bosco Lodi, especialista em sucessão familiar nas empresas. "É por essas e outras que o setor deve continuar nas mãos de famílias após o ciclo de fusões." O Itaú, maior banco familiar brasileiro, pode comprovar a teoria de Lodi. Ao comprar o BFB, em junho passado, o Itaú foi alvo de rumores -desmentidos pelo banco- de cisão na histórica sociedade das famílias Vilella e Setubal. "As famílias continuam unidas e crescerão unidas", assegurou um diretor do Itaú. LEIA MAIS sobre banqueiros na pág. 2-5 Próximo Texto: Lei permite balanço irreal Índice |
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