São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mais subsídios aos bancos?

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

"Assim caminha o pensamento liberal brasileiro (com relação aos bancos): privatização de ativos públicos e estatização de prejuízos privados!" Paulo Nogueira Batista Jr., Folha, 23/11/95.
Esta semana que passou foi pródiga em justificativas para a ação tardia do Banco Central junto ao Banco Nacional e em desculpas sobre por que seria importante salvar banco quebrado com dinheiro público.
Afirma-se que, se isso não fosse feito, poderia haver uma corrida bancária. Mas corridas bancárias só ocorrem quando a população tem razões para desconfiar que o sistema financeiro está periclitante.
Como não é este o caso, o empréstimo "de pai para filho" para que o Unibanco assumisse a parte boa do Nacional é simplesmente uma operação de assistência caridosa a acionistas controladores.
O pior é que o rombo do Nacional a ser coberto pelos cofres públicos pode atingir a cifra de R$ 8 bilhões, conforme calcula Joe Yoshino, meu colega da USP. Além, é claro, dos R$ 4 bilhões que vão para limpar a casa do Econômico.
Perguntas incômodas: quantos sem-terras poderiam ser assentados com R$ 12 bilhões? Quantas casas populares poderiam ser construídas?
Como sempre, há a desculpa de que se o Nacional fosse liquidado o prejuízo à população seria maior. Será mesmo? É aceitável que se dêem subsídios para causas importantes como saneamento, educação, saúde pública, mas para bancos, não. Quebrou? Pode liquidar! O BC precisa lembrar que subsídio para controladores de bancos estimula ações irresponsáveis.
O episódio do Nacional é rico em ensinamentos sobre como não se deve gastar dinheiro público. Primeiro, o BC forçou o Banco do Brasil e a CEF a emprestar dinheiro para um banco com problemas patrimoniais sérios. Por que?
Segundo, o BC ficou cativo de um jogo de cartas marcadas para com o Unibanco que, corretamente, objetivou maximizar seu lucro. Terceiro, o tamanho do rombo patrimonial ainda é desconhecido. Por que aceitar que este rombo seja coberto com títulos da dívida pública, aceitos por seu valor de face, se estes são negociados com deságio no mercado?

Texto Anterior: Disputa interna é abafada por Menem
Próximo Texto: Ex-garçom se prepara para inaugurar fábrica em SP
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.