São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995 |
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Acordo dá vitória a sérvios, diz Sontag
MAURICIO STYCER
Ensaísta militante, Sontag escreveu no final dos anos 60 um famoso texto contra a participação dos EUA na Guerra do Vietnã. Desde 1993, tem feito frequentes viagens de trabalho à Bósnia. A cada três meses, passa pelo menos 30 dias lá. Ainda em 1993, na segunda viagem, Sontag encenou a peça "Esperando Godot", de Samuel Beckett, em Sarajevo, que ficou em cartaz por quatro meses. Na última quarta-feira, Sontag falou à Folha por telefone, de Nova York, sobre o tratado de paz. Folha - O que a sra. achou do acordo de paz para a Bósnia? Sontag - Ele apenas ratifica a derrota da Bósnia. É uma paz totalmente injusta. É claro que estou feliz que as pessoas vão parar de morrer. Mas o fato é que a Bósnia perdeu e os sérvios ganharam. Os próprios negociadores norte-americanos reconhecem que é uma paz injusta. (Fala a seguir com ironia) Os bósnios são as vítimas, os sérvios e os croatas, os agressores. Mas, apesar de tudo, vivemos num mundo real... Sou contra isso. Sou totalmente pró-Bósnia, a causa deles é justa e eles são vítimas de um genocídio -o quarto do século na Europa: depois dos armênios, dos judeus e ciganos, os bósnios. Folha - A sra. já disse que o século 20 começou e está acabando em Sarajevo. Sontag - Talvez seja também onde o século 21 começa. Porque acho que muitas outras guerras como essa vão ocorrer. Guerras que parecem guerras civis, mas não são. Essa guerra foi uma agressão. A Bósnia foi invadida pela Sérvia. Fico muito triste com esse acordo, mas é claro que queria que a guerra acabasse. Os bósnios não podiam ganhar. Eles não são um povo guerreiro. Acontece, às vezes, as vítimas serem derrotadas... Texto Anterior: ONU é impotente em conflitos, diz estudioso Próximo Texto: EUA discutem fim de agência de informação Índice |
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