São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995 |
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um bailarino no Planejamento Cosette Alves COSETTE ALVES
O ministro José Serra diz que é grande a independência que o Banco Central tem hoje, por exemplo, em relação a juros e taxas de câmbio, que, na prática, são decididos por sua diretoria. Acha que, no Brasil, a tendência a procurar panacéias é grande. E não se pode correr o risco de criar um quarto poder. "O Banco Central é ligado ao Executivo e nunca vai pairar acima da política, como nunca pairou em nenhum país. Na Alemanha, o Banco Central é supostamente independente. Na hora da unificação das Alemanhas, teve que quebrar sua política e participar do processo. Acho que o Banco Central tem que ter condições de fazer o seu trabalho. Mas se for um novo poder e fizer uma política errada, responderá a quem?" Taxas de juros "As taxas de juros têm estado excessivamente altas em termos reais e isso é também o pensamento do presidente Fernando Henrique. Ele tem determinado que as taxas sejam reduzidas em termos reais. Mas isso não significa nenhuma política monetária pródiga. É indiscutível que uma taxa de juro real de 40% ou 30% nos títulos públicos é um exagero pernicioso". Banespa O ministro José Serra acha que o problema do Banespa não é privatizar ou não privatizar. É a dívida de US$ 13 bilhões do governo do Estado com o banco. Sem resolver a questão da dívida, o Banespa não é viável nem como banco público, nem como banco privado. Acha que o governo do Estado tem papel crucial por ser o principal depositante. Portanto, tem uma voz enorme no que pode ou não acontecer com o banco. Um exemplo: privatiza-se o Banespa e o governo do Estado não deposita mais no banco. O banco perderia sua atração como investimento. O que pensa sobre a abertura da economia? "Coordenei um grupo de trabalho para o programa de governo de Tancredo Neves -COPAG- e um dos documentos era o de política industrial, que contou com a colaboração do Wilson Suzigan e do Antonio Kandir. No trabalho, eu já previa uma considerável abertura da economia, o que na época escandalizou muita gente, inclusive no PMDB, que era o meu partido. A abertura teve efeitos positivos para o país e era inexorável. Mas a abertura rápida e drástica foi feita numa economia não preparada para se defender contra práticas desleais do comércio. Esse processo precisa ser regulado. Para mim, abertura não é comprar produtos do Sudeste asiático baseados em dumping e subsídios violentos ou uma camisa que entra a 4 centavos de dólar como forma de sonegar imposto. Isso tudo não é admitido pela Argentina nem pelos Estados Unidos. O Brasil admitir ser a favor da abertura não implica dispensar uma política comercial racional. Defender a abertura, diz o ministro, também não significa institucionalizar o contrabando. "A economia brasileira hoje é vítima de um contrabando volumoso que não pode ser entendido como abertura. Podemos calcular anualmente entre US$ 10 e US$ 15 bilhões de contrabando. Do Paraguai, entram cerca de US$ 10 bilhões. Esse delito rouba empregos, leva à evasão tributária e obriga quem já paga impostos a pagar mais ainda. Hoje temos a economia mais aberta das Américas. Mais do que a dos Estados Unidos. Essa opinião, aliás, é compartilhada pelo embaixador nosso nos Estados Unidos, Paulo Tarso Flecha Lima. Reformas "O mais importante nessa matéria é a reforma administrativa, até porque a política fiscal não tem a ver só com receita, mas também com a despesa. A carga tributária no Brasil neste ano é a mais alta da história. Nós não vamos resolver os problemas brasileiros aumentando-a. O que se tem que fazer é tornar o sistema mais simples. O sistema tributário que nós estamos propondo implica não taxar nenhuma exportação, máquinas, equipamentos e insumos agrícolas, a fim de aumentar a eficiência da economia e o investimento. A questão do déficit tem que ser tratada e controlada via reforma administrativa. Existe uma situação perversa em que o funcionalismo ganha mal e os gastos do governo são excessivos. É isto que a reforma administrativa vai tentar consertar". Privatização O ministro José Serra é o presidente do Conselho Nacional de Privatização. Não é o presidente executivo, mas coordenador, pois a privatização é conduzida pelos ministros setoriais. Ele acha que a privatização é um processo muito complexo, mas está sendo bem executada. Com relação à cobrança que se faz sobre a morosidade do processo, diz que, em qualquer país do mundo ela toma tempo -e que a privatização brasileira tende a ser mais rápida que em outros países. Acha que qualquer pleito pedindo mais rapidez é legítimo, desde que acompanhado de propostas objetivas concretas, o que ainda não aconteceu. E que, se fizerem uma privatização atropelada, as consequências serão a venda de empresas por preço pior e o surgimento de desconfianças que podem atrapalhar a privatização. Disse ainda que as privatizações estão acontecendo numa média de tempo inferior à dos outros países. "Tem algumas pessoas que, falando de privatização, parecem o sujeito que entrou numa agência de passagens e pediu: 'Quero uma passagem aérea'. 'Para onde?', perguntou a funcionária. 'Não sei', respondeu o sujeito. 'Mas quero uma viagem rápida.'" Nunca pensou em ser bailarino? "Não. De todas as artes, a que mais eu aprecio é o balé, a meu ver, a maior e mais completa de todas. O balé me fascina. Mesmo que tivesse começado criancinha, teria estado sempre fora do meu alcance. É uma questão genética". Texto Anterior: um bailarino no Planejamento Próximo Texto: FICHA Índice |
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