São Paulo, domingo, 26 de novembro de 1995
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Personagem cria polêmica entre gays

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

A alma feminina do personagem Sarita Vitti, vivido pelo ator Floriano Peixoto em "Explode Coração", da Rede Globo, criou polêmica na ala homossexual militante: drag queens, travestis e homossexuais dizem que Sarita tem identidade indefinida.
A "drag queen" é uma fantasia, um homem que se veste de mulher à noite, com roupas exóticas e maquiagem carregada -Isabelita dos Patins é o exemplo mais típico.
Sarita mistura um lado de ator transformista e drag queen -faz shows noturnos- com um cotidiano em que se traveste de mulher, equilibrando trejeitos masculinos e femininos.
"Não fico 24 horas de patins e cílios postiços. No meu prédio, sou o 'seu' Jorge", diz Isabelita dos Patins, que foi contatada pela produção da novela na pesquisa sobre a vida de uma "drag queen".
Isabelita diz que falou com a autora Glória Perez e elogiou a cena em que Sarita esmurrou um vizinho que a ironizou, no primeiro capítulo da novela. Não gostou, no entanto, dos trejeitos do personagem.
"Parece uma bicha louca, está afetado demais, agressivo e grotesco. É mais um travesti, porque se veste de mulher durante o dia", afirmou.
A presidente da Astral (Associação de Travestis e Liberados), Jovana Baby, pensa o contrário: "Sarita é uma sonsa, toda recatada, não tem sensualidade nenhuma. É um gay no armário", afirma.
Segundo Jovana Baby, o personagem parece ter medo de sua condição homossexual e ainda não mostrou a realidade de preconceito e perseguição do travesti brasileiro.
O ator transformista Norberto David, que vive Laura de Vison nas boates do Rio, considerou preconceituoso o fato de a novela não escolher um travesti real para o papel.
"Do jeito que está, não se sabe se é um travesti ou uma 'drag queen'. Parece uma bicha principiante, que ainda se incomoda com piadas. A gente já tira isso de letra", diz.
Márcio Leal, secretário do grupo gay Atobá, critica o lado artístico do personagem, porque considera que os shows ajudam a reforçar a visão caricatural sobre os homossexuais. "Ele tinha que se vestir de homem. Gay não é só show, não é só caricatura", afirma.

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