São Paulo, segunda-feira, 27 de novembro de 1995
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Remédio alemão para a pequena empresa

WERNER K. ROSS

O acontecimento da Febral 95 vem marcar o excelente estágio das relações Brasil-Alemanha na área econômica. Nesta fase em que grandes conglomerados alemães anunciam investimentos no mercado brasileiro, é hora de destacarmos também a força da pequena e média empresas, cujo potencial já foi descoberto pela Europa e pelos Estados Unidos, mas permanece ainda pouco valorizado em nosso país.
Lá fora, a produção industrial das pequenas e médias empresas ocupa grande importância estratégica, e está realmente fortalecida no contexto econômico. Elas competem internacionalmente e participam, de fato, do processo de globalização no mundo dos negócios.
Comparando este quadro com a realidade brasileira, temos a impressão de que este nível de competitividade ainda não foi atingido por nossos pequenos e médios empreendimentos. De maneira geral, eles ainda são dirigidos ao mercado local, principalmente na área das indústrias. Olham apenas para o cenário interno e deixam de aproveitar as oportunidades em outras regiões do mundo.
Não é preciso ir muito longe para se obter um exemplo das possibilidades de crescimento que os países estrangeiros oferecem.
Na Argentina, o volume de negócios bilaterais com o Brasil tem aumentado geometricamente nos últimos anos. E esse é um caso de expansão regional, facilitada pelo Mercosul. Na verdade, o crescimento pode (e deve) ser global, sem limites entre os continentes.
As oportunidades no exterior são, certamente, tão interessantes quanto às apresentadas pelos negócios internos, e aí reside outro lado da questão a afetar nossas pequenas e médias empresas.
Com a liberalização da economia, similares de pequeno porte com sede em países estrangeiros voltam-se para disputar uma fatia do mercado brasileiro, o que exige resposta imediata por parte de quem já está aqui estabelecido. Para enfrentar essa competição, é preciso mudar a postura e estar disposto a buscar espaço no mercado internacional.
Mas, por que afinal as pequenas e médias empresas do Brasil ainda não estão preparadas para dar esse salto? A resposta é simples: lá fora, as indústrias estão mais capacitadas, utilizam soluções próprias, muitas vezes tecnologia de ponta, obtida graças a um esforço de excelência.
Estatísticas na Alemanha apontam para consideráveis investimentos feitos por pequenas e médias empresas nas áreas de tecnologia, meio ambiente e treinamento. No Brasil, apesar do vasto campo a ser explorado, não temos nem mesmo um estudo que aponte números a respeito.
O investimento em tecnologia é necessário para que as empresas tenham seus próprios produtos e marcas, um terreno no qual as pequenas e médias indústrias brasileiras têm demonstrado tímida atuação.
O panorama começa a mudar em virtude da cooperação do setor produtivo com as universidades, a exemplo do que acontece em Santa Catarina e no interior de São Paulo.
Outro caminho é o proposto pelas Câmaras de Comércio Brasil-Alemanha, que estão fomentando associações entre os dois países. As condições para esse intercâmbio são extremamente favoráveis: do outro lado do Atlântico, temos empresas com alta especialização tecnológica e poucas chances para expandir seus negócios. Aqui, as perspectivas de crescimento são grandes, mas falta capacitação.
Há várias formas de se concretizar esse casamento de interesses, seja por meio de cooperações técnicas, associações estratégicas ou "joint-ventures", que, acreditamos, sejam a forma mais rápida de acelerar a integração entre as empresas, não apenas na área industrial, mas também no setor de serviços, onde encontramos igualmente uma enorme diversidade de experiências entre os dois países.
Recentemente, 18 empresários do Estado da Baixa Saxônia estiveram aqui para estabelecer contatos com empresas locais. O resultado da visita foi extremamente favorável, o que prenuncia grandes expectativas para a Febral. Esse evento será o catalisador de todas as possibilidades ora apresentadas no relacionamento econômico entre Brasil e Alemanha, que não são poucas, diante de nosso passado e de nosso futuro em comum.

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