São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 1995
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Reage Rio; Caçada humana; Ataque irresponsável; Preocupação; Violência primitiva; Apoio

Reage Rio
"Reage Rio: esse evento traz em seu bojo a insatisfação das camadas mais abastadas da sociedade com a realidade nacional. Realidade criada e cultivada por essas mesmas camadas. Provavelmente uma boa parte delas ocupou -na época do massacre da Candelária- a linha telefônica para denúncia aprovando o massacre dos meninos de rua. Provavelmente são também os que hoje pregam à "boca pequena" bombardear as favelas com os obuses do Exército. Repudiamos esse movimento por considerá-lo fascista e hipócrita. 'Sem justiça não há paz' e não serão as cadeias que trarão a justiça. Aos bem-intencionados que a essa manifestação forem, não tenham dúvidas. Só querem a sua participação para dar volume ao evento, assim como em época de eleições só querem o seu voto. Queremos a paz, mas não a paz que permite a fome, os salários miseráveis, o sucateamento da educação pública. Não a paz que permite enxergar criminosos só entre os pobres."
Cesar Izetti Ribeiro e Winston Ferro (Niterói, RJ)

Caçada humana
"Não esqueçamos que os irmãos Ibrahin e Henrique de Oliveira, objetos de uma 'caçada humana' nas selvas e montanhas de Nova Friburgo, são seres humanos, não são monstros, por mais que assim alguns desejem. A descrição que deles estão fazendo a polícia, os entrevistados pela mídia e esta própria tira-lhes qualquer inspiração de simpatia, solidariedade ou compaixão. A imprensa, inclusive a Folha, ao reproduzir o melancólico cartaz de 'Procura-se' feito numa delegacia -onde aparecem os dois rapazes como no tempo em que se caçava escravos fugidos-, está construindo no imaginário da opinião pública justificativas psicológicas que poderão 'justificar' o extermínio imediato dos suspeitos por seus caçadores bem-armados."
Fernando Conceição, pesquisador do Núcleo de Estudos Interdisciplinares do Negro da USP (São Paulo, SP)

Ataque irresponsável
"O governador do Rio, Marcello Alencar, ataca de forma irresponsável e sem provas a Fábrica Esperança, do pastor Caio Fábio, no momento mesmo em que o outro espaço público do Rio de Janeiro que faz as políticas sociais que os governos não realizam -a Casa da Paz, de Caio Ferraz- também está em risco, pelas reiteradas ameaças de vida que este sofre. É indispensável o repúdio às palavras de Marcello Alencar e a garantia por parte da cidadania de que tanto a Fábrica da Esperança, dirigida por Caio Fábio, quanto a Casa da Paz, dirigida por Caio Ferraz, sobrevivam, se fortaleçam e se multipliquem."
Emir Sader (São Paulo, SP)

Preocupação
"A Copebrás S/A, na qualidade de maior produtora brasileira de negro de fumo, vem manifestar sua preocupação com a reportagem intitulada 'Prefeitura de Diadema fecha empresa química', veiculada na Folha ABCD de 28/10, que define negro de fumo como produto cancerígeno usado na fabricação de borracha. Durante quase 40 anos de atividades produtivas nunca foram constatados, pelo nosso setor de medicina ocupacional, casos de câncer correlacionados com esse produto, além de não se encontrar na literatura científica internacional qualquer alusão ao fato. O próprio Ministério do Trabalho, através da portaria nº 9 de 9/10/92 da Secretaria Nacional de Trabalho -Departamento Nacional de Segurança e Saúde do Trabalhador, reconhece, por meio de estudos epidemiológicos e pesquisas de saúde ocupacional, que a produção e a exposição ao negro de fumo não induzem a aumento de risco de doença profissional ou indício do efeito carcinogênico."
Osmar Cisotto, gerente de relações institucionais da Copebrás S/A (São Paulo, SP)

Violência primitiva
"Sexta-feira, 20/10, na coluna intitulada 'Aviso aos navegantes - 11', Juca Kfouri comentava o objetivo do boxe. Complementando o arrazoado de motivos, exponho minha opinião a respeito: 1) o objetivo do boxe é bater no rosto do adversário, mesmo que o machuque, mesmo que saia sangue, mesmo que descole uma retina, mesmo que corte o supercílio, mesmo que deforme o rosto do adversário, até mesmo que provoque uma hemorragia cerebral; 2) O bom boxeador deve bater na cabeça do adversário de tal forma que a mesma sofra uma rápida rotação. Dessa forma, pela lei da inércia, a caixa craniana roda enquanto a massa encefálica que a preenche tem um tempo de retardo para acompanhar esse movimento. Isso ocorrendo, o adversário vai a nocaute. É assim que se conseguem os nocautes. Quando isso ocorre, deixo para os médicos descreverem com maior precisão o estrago provocado no cérebro; 3) Tendo o adversário protegido a cabeça, cabe ao outro contendor da luta bater no fígado, boca do estômago, enfim, do umbigo para cima bater em tudo, mesmo que provoque uma hemorragia interna. Bem, se são esses os objetivos, e ainda tem gente como Wilson Baldini Jr. que defende essa luta, na sua coluna "Sparring", título 'Sem proibições', publicado em 20/10 na mesma Folha, e ainda tem outros jornais, televisão etc. que ficam dando espaço para esse tipo de violência, fico com a impressão que ainda não evoluímos nada em relação à época em que os cristãos eram devorados na arena pelos leões."
Luciano Pletsch Leite (Cuiabá, MT)

Apoio
"Enquanto uma das juristas presentes em reunião convocada pelo CNDM (Conselho Nacional dos Direitos da Mulher) e CFEMEA (Centro Feminista de Estudos e Assessoria) para debater as propostas do movimento feminista para a reforma do Código Penal, venho manifestar o meu consenso com o artigo 'Uma questão de consenso', das colegas Leila Linhares Barsted, Esther Kosovsky e Norma Kiryakos. Importa repetir: o Brasil tem de honrar o seu compromisso político firmado em Beijing."
Silvia Pimentel (São Paulo, SP)

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