São Paulo, terça-feira, 28 de novembro de 1995 |
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Uma longa caminhada, pela paz
VICENTE PAULO DA SILVA O Rio está assustado com a violência. O Brasil também. A criminalidade aumenta. Os sequestros. As execuções sumárias. As chacinas. As disputas por controle de territórios. A "bandidagem", até mesmo dentro da polícia.Cresce a violência. E a violência gera violência. A violência do desemprego, dos salários abandonados, da expulsão dos trabalhadores rurais da terra, da expulsão das crianças das escolas para serem exploradas desde cedo, da falta de investimentos em saúde... A violência contra os sindicatos, contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, quando lutam justamente por condições dignas de trabalho e de vida... Essa situação dramática gera violência. O Rio reage. Devemos todos reagir. Estarei na Candelária hoje, participando dessa grande marcha de todas as pessoas de bem contra a violência e por uma cidade melhor, um país melhor. Mais de 1 milhão de trabalhadores estão sem remuneração e sem emprego neste exato instante, apenas na Grande São Paulo. Perambulam pelas ruas sem perspectivas, agravando, a cada momento que passa, as condições sociais do país. Também neste exato instante um trabalhador rural está sendo ameaçado de morte e sua esperança de vida digna, ao cultivar a terra, pode estar indo por água abaixo pela ação repressiva do latifúndio e/ou do governo. Ou ainda, em algum lugar deste país, alguém pode estar precisando de atendimento médico, mas clama pelos corredores imundos de um hospital abandonado, à procura de quem o atenda. Do mesmo modo que uma criança em idade escolar pode estar forçosamente trabalhando em uma lavoura de cana-de-açúcar, numa mina de carvão ou ainda em uma indústria de calçados, sonhando um dia em aprender a ler e a escrever. Tanta violência não pode ficar impune. Essa nossa caminhada deverá se converter em vontade política de todos os setores da sociedade para superarmos a dramática situação em que vive nosso povo, nossa gente. E não será com a violência, com medidas simplesmente repressivas, que mudaremos essa situação. É fundamental combater as situações concretas que levam ao surgimento, acirramento e crescimento da criminalidade. É fundamental a busca da generosidade, da solidariedade ativa, da tolerância, da justiça social. É exatamente para buscar um novo caminho, que ataque a miséria, que promova políticas sociais e emprego, que vislumbre um novo Brasil, que a nossa Central Única dos Trabalhadores luta. Foi apontando para esse rumo que surgiu o moderno movimento sindical brasileiro. Um sindicalismo que não se limita às questões econômicas e às lutas corporativas. Um sindicalismo que empenha-se na defesa da cidadania nos seus mais amplos aspectos. Por isso estaremos participando das manifestações de hoje. Estamos reagindo, Rio. Reage, Brasil! Texto Anterior: O dia da reação Próximo Texto: Reage Rio; Caçada humana; Ataque irresponsável; Preocupação; Violência primitiva; Apoio Índice |
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