São Paulo, quarta-feira, 29 de novembro de 1995
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Viúva de sequestrado homenageia marido

CLAUDIA MATTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Apesar de ter recebido na noite anterior a notícia da morte de seu marido, o empresário David Kogan, a jornalista Vera Dias, 38, participou ontem da caminhada promovida pelo Reage Rio.
Kogan, sequestrado por engano no dia 5 de maio, foi morto, segundo a polícia, após ter tentado fugir do cativeiro, na favela Nova Brasília, Bonsucesso (zona norte do Rio).
A DAS (Divisão Anti-Sequestro) afirmou à família que os sequestradores só queriam roubar o carro e que Kogan foi levado porque seu carro, um Volvo, lhes pareceu pertencer a alguém muito rico.
Ao tentar fugir, Kogan teria sido baleado e, em seguida, seu corpo queimado junto com pneus velhos, o que não deixaria possibilidade de reconhecimento.
A DAS confirmou a morte de Kogan após prender o suposto traficante Djalma Castilho Júnior, o "Naval", 31, na madrugada de anteontem.
Naval descreveu a morte de Kogan, mas negou participação no sequestro. No entanto, o delegado Cláudio Vieira, responsável pelo caso, acredita que Naval foi um dos sequestradores de Kogan.
Com faixas perguntando "Cadê David?" ao secretário de segurança, Nilton Cerqueira, ao chefe de Polícia Civil, Hélio Luz, e ao governador Marcello Alencar (PSDB), cerca de 200 amigos e familiares de Kogan foram ao ato.
Vera afirma que a principal cobrança, agora, será pelo corpo.
"Quero o que sobrou dele. Ele não merece ser enterrado como um cachorro dentro de uma lata de lixo, numa favela", disse.
Três meses após o sequestro, Vera já se dizia de luto, mas afirmou manter as esperanças para não desanimar a família.
"Foi uma situação muito aflitiva, porque eu já tinha certeza que o David estava morto, mas outras pessoas não. Eu tive de respeitar a esperança delas", contou.
Há cerca de quatro meses, a família de Kogan recebera da DAS a notícia de que Kogan já estaria morto. Só não tinha conhecimento das circunstâncias de sua morte.
"O que mais doeu foi saber que ele acabou "derretido' com um monte de pneus. Foi este verbo que o Naval usou em seu depoimento", afirmou Vera, que considerou a passeata um funeral para seu marido. Vera soube da confirmação da morte de Kogan através de jornalistas. Ninguém da DAS ligou para a família para informar que Naval fora preso. A família é que teve de procurar os delegados da divisão para obter detalhes.
(CM)

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