São Paulo, sexta-feira, 1 de dezembro de 1995
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'Grampeados' assumem pedido de encontro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O embaixador Júlio César Gomes dos Santos, ex-chefe do cerimonial da Presidência, confirmou ontem à supercomissão da Câmara que entrou em contato com o Ministério do Planejamento para marcar uma audiência do presidente da Líder Táxi Aéreo e representante da empresa Raytheon, José Afonso Assumpção, com o ministro José Serra.
Mais tarde, em seu depoimento, o próprio Assumpção reafirmou a gestão de Júlio César.
Esse pedido foi considerado pelos deputados um indício de tráfico de influência. Depois do telefonema, a audiência, que vinha sendo longamente prometida a Assumpção, finalmente se realizou.
Júlio César disse que telefonou para o assessor de Serra, embaixador Santiago Mourão, depois do pedido de Assumpção. Segundo sua versão, o presidente da Líder lhe havia dito que tinha se encontrado "casualmente" com Serra no aeroporto do Rio.
Assumpção, de acordo com Júlio César, aproveitou o encontro casual para pedir uma audiência ao ministro. Ele queria tratar da renovação da frota de aviões do GTE (Grupo de Transporte Especial) da FAB (Força Aérea Brasileira).
Júlio César voltou a afirmar que não acredita que o presidente Fernando Henrique Cardoso soubesse que seu telefone estava grampeado, principalmente porque teve "conversas piegas" com o tucano.
"Ele dizia coisas como 'não me deixe sozinho com fulano, que é muito chato, não convida sicrano que é muito chato', e, se isso fosse publicado pela imprensa, poderia embaraçar o presidente", relatou.
O ex-chefe de cerimonial disse ainda que considera as gravações feitas pela PF uma "farsa". Segundo ele, uma prova disso é que estão sendo apresentadas diferentes versões sobre um mesmo diálogo entre ele e Assumpção sobre o senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), relator do projeto.
Em seu depoimento, Assumpção confirmou que, no fim de 1994, fechou negócio para compra pelo senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) de um jato Lear 60. A transação foi acertada na mesma época em que Miranda, relator do projeto do Sivam, deu o seu primeiro parecer, favorável ao contrato.
Assumpção disse que recebeu uma procuração de Miranda para comprar o jato por meio de uma operação conhecida como leasing operacional. Ele deu entrada a um processo no DAC (Departamento de Aviação Civil), mas, em junho, recebeu uma contra-ordem.
O cancelamento também coincide com o período em que o projeto Sivam começa a enfrentar problemas no Senado por causa das resistências de Miranda.
"Causou estranheza, porque era o mesmo projeto, e não entendo como uma pessoa leiga pode querer discutir qual é o melhor radar", disse Assumpção.
Apesar disso, Assumpção evitou fazer acusações a Miranda e disse que a conversa com Júlio César em que chama o senador de "filho da puta" e em que Júlio César pergunta se ele, Assumpção, deu dinheiro ao senador é apenas uma "conversa de amigos, de caráter pessoal e linguagem com expressões informais".
O representante da Raytheon procurou defender-se, alegando que a fita com as conversas de Júlio César é uma "montagem". Ele anunciou a intenção de mandar fazer uma perícia na fita.
"Posso ter falado essas coisas que estão na fita, mas nunca naquela sequência. As frases não têm sequência, parecem um telegrama", argumentou. Dirigentes da UNE (União Nacional de Estudantes), com cartazes pedindo a instalação da CPI do Sivam, foram impedidos de se manifestar durante o depoimento de Assumpção.

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