São Paulo, sexta-feira, 1 de dezembro de 1995
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"Dinheiro não é de graça"

DA REDAÇÃO

O presidente da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), Maurício Schulman, diz que o financiamento dado pelo governo para a fusão de bancos "é com juro menor que a média de mercado e com prazo mais longo, mas não é de graça".
Para cada empréstimo de R$ 100, o banco comprador precisa dar garantia de R$ 120. O financiamento se baseará na rentabilidade do título dado em garantia, mais o juro de 2% ao ano, diz Schulman.
No caso da carteira de financiamento imobiliário, os bancos pagarão juros 2% ao ano acima do pago pela média dos mutuários que originaram o Fundo de Compensação das Variações Salariais, afirma Schulman.
Fernando Gentil, presidente do ING Bank, diz que o governo tem a responsabilidade de proteger o sistema financeiro e fortalecê-lo por meio de incentivos a fusões e aquisições.
Para Gentil, o conflito é claro. Se o governo paga o valor de face (R$ 100, por exemplo) para um título "podre" (como papéis da dívida agrária) que vale pouco, ele amplia suas despesas, que são financiadas por toda a sociedade. Caso o governo não incentive as fusões de bancos, o sistema financeiro se debilita e o seu salvamento pode se tornar um problema maior, diz Gentil.
Erivelto Rodrigues, da consultoria Austin Asis, diz que o incentivo como a utilização de financiamentos ou a possibilidade de uso de "moedas podres" é um "mal menor", pois o importante é manter a credibilidade do sistema.
Caso haja a "quebra" de grandes bancos, as pessoas vão evitar deixar seu dinheiro nos bancos, procurar aplicar em moedas estrangeiras e toda a economia perde a estabilidade e se deteriora, diz.
Fiesp
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) considera que o uso de títulos podres pelo valor de face e de recursos públicos em geral na obtenção de financiamentos do Proer é aceitável, em termos, diante da perspectiva de uma crise de confiança no setor bancário.
Na avaliação de Carlos Eduardo Moreira Ferreira, presidente da Fiesp, uma crise bancária de grandes proporções minaria a confiança do público no funcionamento do sistema, espalhando o prejuízo por toda a sociedade.
Mas a Fiesp diz que o uso de recursos públicos na linha de crédito do Proer não deve ser a "fundo perdido" nem pode colocar em risco o programa de estabilização.
Para a Fiesp, os recursos públicos, seja qual for a origem, pertencem aos contribuintes e têm de ser "recuperáveis" a médio prazo.
Mas se a recuperação não for possível, a operação de salvamento suscita interrogações, avalia.
Para a Fiesp, a desconfiança no setor financeiro provocaria uma paralisação geral da economia e conduziria à "estatização" dos depósitos bancários.

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