São Paulo, sexta-feira, 1 de dezembro de 1995
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Sonho ou pesadelo

WILSON BALDINI JR.

As previsões se confirmaram. O sonho do peso-médio brasileiro Peter Venâncio de conquistar o mundo com a ajuda do empresário Don King não passou de um pesadelo. Mais uma vez, um bom valor deslumbrou-se com as "vantagens" do gângster norte-americano e praticamente jogou fora toda a sua carreira.
Era esperar demais dos norte-americanos, que não costumam fazer festas para os outros. O ganês Azumah Nelson e o mexicano Julio César Chávez que o digam...
Segundo no ranking da Associação Mundial de Boxe, uma das três principais entidades, Venâncio viajou no início do ano para Miami com um contrato que previa três combates e a "garantia" de disputar o título mundial com o argentino Jorge Castro, ainda em 95.
Pura enganação. O brasileiro fez uma luta "cala-boca" e apenas participou de treinamentos. Pior ainda, serviu inconscientemente de sparring para lutadores de King.
Resultado: mal preparado, foi derrotado no último fim-de-semana. Agora, Venâncio, que havia subido para a primeira colocação do ranking, deve despencar como um martelo sem cabo.
Este exemplo não é o primeiro, mas precisa ser o último. Outros lutadores nacionais, como Francisco Tomás da Cruz e Chiquinho de Jesus, também acabaram se expondo no momento errado.
Tomás da Cruz pegou em 87 um invencível Julio César Chávez. Já Chiquinho enfrentou Mattew Hilton e Julian Jackson -quando todos fugiam desse confronto. Eles, como Venâncio, não tiveram uma correta orientação.
É chegado o momento de o boxe tupiniquim ser administrado por pessoas com idéias novas. Seguir o exemplo do vôlei e procurar empresas que queiram patrocinar nossos melhores. Dá para calcular o retorno de uma transmissão ao vivo, para meio bilhão de pessoas, numa preliminar do Tyson?
Os nossos clubes mais populares também poderiam ter papel importante. Veja a repercussão que deu a vinda do Oscar para o basquete do Corinthians. Na "Forja dos Campeões", a grande atração é Corinthians x São Paulo.
Seria incrível ver Venâncio com o calção do São Paulo e Maurício Amaral com o do Corinthians disputando títulos no exterior.
Assim, o boxe profissional brasileiro entraria no século 21 fora do esquema "underground" que o caracteriza. Isso só facilita a armação de resultados, a formação de "falsos lutadores" e o trabalho de empresários aproveitadores.

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