São Paulo, sexta-feira, 1 de dezembro de 1995
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Filme adapta diários do escritor Jim Carroll

DANIELA ROCHA
EM NOVA YORK

Nos Estados Unidos, o filme que antecedeu "Kids" foi "Diário de um Adolescente", adaptação do livro "The Basketball Diaries", do escritor, poeta e músico nova-iorquino Jim Carroll.
Apesar do forte apelo dramático do livro, o filme "Diário" não emplacou nos EUA. Talvez porque ele releia no presente uma "história real do passado" -Jim e seus amigos se afundando em um submundo de drogas em meados dos anos 60 nas ruas de Nova York-, enquanto "Kids" mostra a versão atual dos garotos nova-iorquinos, que, entretanto, não difere muito das situações vividas por Carroll.
No livro, as experiências de Jim Carroll entre seus 13 e 16 anos com sexo e drogas são às vezes terrificantes. No filme, o impacto é outro, quase de melodrama.
Visto pessoalmente, Carroll impressiona. É um homem franzino, de voz e gestos trêmulos -reflexo do excesso com drogas e bebidas na juventude. Tem 45 anos, mas aparenta ter bem mais. Amigo e contemporâneo de Lou Reed, Carroll teve três álbuns gravados com a sua Jim Carroll Band. Hoje, ele se dedica à poesia e à literatura.
Feliz com a adaptação de seu livro para o cinema e principalmente com a interpretação de Leonardo di Caprio no papel principal, Carroll falou à Folha no lançamento do filme em Nova York, em maio deste ano.
*
Folha - O filme é fiel ao livro?
Jim Carroll - Sim, foi muito bem-feito. Na primeira vez que li o script fiquei impressionado com o fato de encontrar ali a mesma força que tem o livro. Eu era muito jovem quando escrevi "The Basketball Diaries" e, no filme, os bons trechos do texto foram transformados em imagens. O roteirista Bryan Goluboff teve grande sensibilidade para fazer isso.
O filme também traz dois poemas que escrevi na época, que Scott (Kalvert, o diretor) escolheu. Ele tinha lido os poemas antes mesmo de fazer o filme e resolveu incorporá-los nas filmagens, apesar de eu achar isso arriscado, mas extremamente doce da parte dele.
Folha - O que você achou da atuação de Leonardo di Caprio?
Carroll - Fiquei surpreso como Leo incorporou tão bem as situações que vivi.
Vi Leo pela primeira vez com Scott e Lou Reed. Lou me conhece da época que eu era um jovem poeta de 16 anos e ele estava no Velvet Underground.
Em dez minutos, Lou disse: "Esse garoto (Leo) viveu com você pelos últimos dois anos?". Cada gesto que Leo fazia tinha grande semelhança com o meu jeito.
Folha - Você concorda que Leo se parece muito com você na adolescência?
Carroll - Sim, mas, para mim, quem está no livro é um personagem. Nunca penso naquele Jim como sendo primeira pessoa.
Sinto que contei ali uma história. Por isso, no filme, não penso que sou eu quem está ali, sendo mostrado na tela.
Folha - Você dirigiria o filme desta forma?
Carroll - Provavelmente não. Há muitas maneiras de lidar com um assunto e mil maneiras de adaptar um livro. O livro é muito mais fragmentado que o filme, que tem cenas encadeadas.
Folha - A que você atribui o interesse em adaptar "The Basketball Diaries" para o cinema?
Carroll - Acho que é um interesse dos estúdios em mostrar uma paranóia com drogas e crianças das cidades roubando para poder sustentar seus vícios.
Folha - Você ainda joga basquete?
Carroll - Não. É muito frustrante. Você tenta jogar e alguém rouba sua bola com agilidade muito maior que a sua. É deprimente. Mesmo assim adoro esportes.

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