São Paulo, sexta-feira, 1 de dezembro de 1995
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Sim, não, talvez...

O governo emitiu sinais desencontrados de política econômica nos últimos dias. Surpreendeu os mercados, sucessivamente, ao balizar os juros, mover o câmbio e anunciar relaxamento das restrições ao crédito. Entretanto, o resultado final, em termos de impactos sobre variáveis-chave da economia, provavelmente é nulo no curto prazo.
Para os juros, os mercados apostavam numa redução mais rápida que a finalmente sancionada pelo Banco Central. Essa opção é provavelmente a fundamental: todas as outras medidas de certo modo empalidecem diante da decisão, teimosa, por manter os juros ainda muito elevados por tempo maior.
A mexida no câmbio, também surpreendendo os operadores do mercado financeiro, foi igualmente milimétrica. No caso, as expectativas eram em boa medida no sentido de que o governo não interviria mais no câmbio em novembro.
Por meio de um leilão inesperado, num fim de tarde, o BC promoveu mais um microdeslizamento da minibanda. Reafirma a política de evitar regras previsíveis para o "timing" da variação cambial.
Finalmente, vieram as medidas relativas ao crédito. Terão efeito praticamente nulo sobre o movimento de Natal, provavelmente animando as compras apenas a partir de meados do primeiro trimestre de 1996.
As iniciativas nessas três frentes, portanto, confirmam a opção do governo por correções no máximo liliputianas de rumo ou de estilo na política econômica.
Uma timidez que parece exagerada, especialmente diante das informações dando conta de que os pedidos de falência bateram novo recorde na cidade de São Paulo em novembro (há cinco meses, são mais de mil pedidos por mês).
Curiosamente, as autoridades oferecem como justificativa para o "alívio" no crédito argumentos que, se levados a sério, com certeza poderiam ter inspirado maior ousadia. Há oferta de bens, nenhum risco de desabastecimento, inflação sob controle, reservas internacionais recorde, saldo comercial positivo. Tudo autorizaria um relançamento mais vigoroso da economia.
Até os mercados futuros, fiados no discurso oficial de redução gradual dos juros, apontavam para uma queda mais rápida, especialmente depois que se tornou patente o impacto perverso dos juros altos sobre as contas públicas ao longo de todo este ano.

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