São Paulo, sábado, 2 de dezembro de 1995
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"Grampo" vira moda entre donos de celular

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma nova e perigosa mania ameaça a segurança dos usuários de telefone celular. Há cerca de três meses, foi quebrado o sigilo em torno dos códigos secretos dos telefones Ericsson, Motorola e GE, permitindo que esses celulares captem conversas de outros.
A escuta se dá de aparelho para aparelho. Os telefones Ericsson e GE, que têm o mesmo código, se transformam em equipamentos de escuta por meio de uma sequência de oito operações. Nos Motorola, o acesso também é simples.
Segundo o presidente da Ericsson, Carlos Paiva Lopes, esses códigos -que são impressos durante o processo de fabricação- foram criados por exigência do governo americano. De alguma forma, que as indústrias não descobriram, os códigos chegaram a conhecimento público em Belém (PA) onde foram publicados em jornais.
Por enquanto, poucos conhecem os códigos em São Paulo mas a informação está sendo transmitida boca-a-boca. A escuta telefônica celular está sendo usada para animar festas e reuniões de elite na capital paulista.
Na última quarta-feira, durante a festa dos tucanos de desagravo para o ex-presidente do Incra Francisco Graziano, vários convidados se divertiram captando conversas em celular. A festa foi na choperia Draftie (região central).
A ironia é que Graziano deixou o governo sob suspeita de ter ordenado o grampo dos telefones do embaixador Júlio César Gomes dos Santos, ex-chefe do cerimonial da Presidência da República.
O vazamento dos códigos no Brasil assustou as indústrias responsáveis pela fabricação dos aparelhos porque pode afetar a credibilidade de um negócio bilionário: o da telefonia celular.
Os códigos dos telefones no Brasil são os mesmos adotados nas Américas Central, do Norte e do Sul, o que significa uma ameaça também a outros países. Só no Brasil, existem cerca de 1 milhão de celulares. Nos EUA, são cerca de 30 milhões.
O risco só não é maior porque, mesmo de posse do código, a pessoa que está na escuta não pode escolher o número do telefone que ele vai "grampear. Consegue apenas captar conversas aleatórias.
O código permite acessar 395 canais. Em cada canal, existe uma pessoa ao telefone, mas é impossível prever quem estará usando determinado canal.
As ligações feitas em um carro em movimento são, praticamente, impossíveis de serem captadas em uma cidade como São Paulo, porque a cada 800 metros os sinais são recebidos por uma antena diferente e trocam de canal.
Segundo o presidente da Ericsson, a partir de janeiro a empresa vai colocar uma nova versão de seus celulares no mercado que não responderão ao código descoberto.
Lopes afirma, no entanto, que as indústrias nada podem fazer em relação aos aparelhos que estão no mercado. "Infelizmente, quebraram o sigilo dos dois aparelhos mais vendidos no Brasil, que são os da Ericsson e os da Motorola."

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