São Paulo, sábado, 2 de dezembro de 1995 |
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CPI investiga 'bingueiros' e livra deputados
EMANUEL NERI
Os "bingueiros" que tiveram sigilo bancário quebrado são Janos Wessel, Valdomiro Garcia Júnior e Ricardo Steinfeld. Os três deram depoimento anteontem na CPI. Ivo Noal tem ligações com bingos. Outra decisão foi convocar o deputado Beto Mansur (PPB-SP) para depor na próxima semana. Corregedor da Câmara, ele apura as denúncias. O principal acusado é Marquinho Chedid (PSD-SP) -os três "bingueiros disseram ter sido extorquidos por ele. O depoimento demorou 15 horas. O mais contundente foi Janos Wessel, do bingo Garitão, em São Paulo. Segundo os depoimentos, o esquema montado por Chedid consistia inicialmente em uma visita aos bingos em nome da CPI. Por falhas na documentação, os bingos eram fechados. A etapa seguinte seria a reabertura do negócio mediante pagamento. A polícia acredita que só em São Paulo 50 bingos foram pressionados a pagar propinas. Cobrava-se em média R$ 300 mil por cada um. Nem todas os pagamentos foram feitos. Dois outros deputados foram envolvidos: Eurico Miranda (PPB-RJ) e Vicente André Gomes (PDT-PE), que teriam acompanhado Chedid em uma operações. Os depoimentos foram marcados por ataques pessoais aos donos de bingo. Eles foram chamados de "bandidos", "marginais", "corruptos" e "contraventores". Miranda tentou desqualificar Wessel: "O que o senhor fala não vale nada aqui", disse. "Então por que me chamaram para depor?", devolveu Wessel. A estratégia dos acusados era forçar uma reação dos "bingueiros" para justificar pedido de prisão. A presidente da CPI, Zulaiê Cobra (PSDB-SP), nada fez para evitar as ofensas. Poucos deputados reagiram à agressividade. "Protesto pela intimidação que estão fazendo", disse Padre Roque (PT-PR). "Os depoentes estão sendo ameaçados", disse Valdomiro Meger (PPB-PR). Em seu depoimento, Wessel apresentou um cartão de visita de Chedid, com o número do celular escrito pelo próprio deputado. Segundo o empresário, o cartão foi dado em reunião com o deputado para tratar da extorsão. O bingo de Wessel foi fechado no dia 15 de outubro por ordem de Chedid, Miranda e Gomes. Ele teria sido convocado a se encontrar no mesmo dia com os deputados, no hotel Brasilton, em São Paulo. No encontro, disse Wessel, Chedid teria dito que um amigo iria procurá-lo para facilitar a reabertura. No mesmo dia, Wessel diz ter sido procurado pelo empresário Alejandro Ortiz, que pediu R$ 600 mil para regularizar a situação de dois bingos. Segundo ele, Alejandro negociou com Chedid a redução para R$ 400 mil. Wessel pediu que a CPI quebrasse o sigilo de suas contas telefônicas e das de Alejandro para provar as ligações feitas a Chedid. O dinheiro não chegou a ser pago. Já Garcia e Steinfeld disseram ter entregue R$ 150 mil a um intermediário de Chedid. Para os deputados, as acusações fazem parte de plano para desmoralizar a CPI. Colaborou a Sucursal de Brasília Texto Anterior: Delegado mantém a versão Próximo Texto: Câmara intensifica apuração interna Índice |
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