São Paulo, domingo, 3 de dezembro de 1995
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A reforma agrária de Capivari

UMA JANELA PARA O MUNDO

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

No domingo passado, José Gomes da Silva fez referência na Folha à reforma agrária na fazenda Capivari, em Campinas, e isso avivou-me memórias de infância. O exemplo é relevante no momento em que o movimento dos sem-terra ganha dimensões nacionais.
A reforma agrária na fazenda Capivari foi iniciada no governo Carvalho Pinto. Tomou-se uma fazenda não muito grande, legalmente desapropriada.
A terra foi dividida em pequenos lotes, de dois ou três alqueires. Em cada um foi construída uma pequena casa; após 15 anos, cada glebista recebeu a escritura definitiva. No núcleo da "reforma" foi levantada uma sede (um galpão para reunião dos novos moradores) e, mais tarde, uma escola.
A grande lição que aprendi aos 11 ou 12 anos, acompanhando meu pai aos sábados em suas visitas às famílias dos glebistas, foi a de que, para prosperar, qualquer experimento de reforma agrária deve contar com orientação de agrônomos e crédito bancário.
Meu pai era gerente da carteira agrícola do Banespa em Campinas. Mais do que tomar Capivari como uma obrigação profissional, tomou-a como algo que ele estimava muito.
Assim, aos sábados ia visitar as famílias em dificuldades (financeiras ou afetivas). Meu pai acabou se tornando uma espécie de consultor conjugal, padrinho de uma dúzia de pimpolhos e quebra-galho geral. Com isso, o nexo glebista-banco prosperou, baseado em forte confiança recíproca.
Com o tempo, me cansei dessas visitas; afinal, ver plantações de tomate, frutas e as granjas não é excitante para um garoto de 11 anos. A função de acompanhante do meu pai passou para meu irmão mais novo, Amauri.
Mais tarde, já na faculdade, li relatórios de avaliação do experimento: todos unânimes em dizer que Capivari está entre os mais bem-sucedidos exemplos de redistribuição da terra.
Que tal rever as lições de Capivari e usá-las, em grande escala, para atender as aflições das famílias dos sem-terra?
PS.: Quem não leu precisa ler a coluna de Delfim Netto na Folha de 29/11: a tese de que o Brasil não pode crescer mais do que 3% ou 4% ao ano sem ter desequilíbrios é bobagem.

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