São Paulo, segunda-feira, 4 de dezembro de 1995
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Modernização brasileira é tema de livro de Ricupero

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil está iniciando neste momento uma nova fase de sua história. O ponto de partida é o resultado de sete décadas de modernização: uma poderosa economia industrializada e uma democracia de massas, mas com massas pobres e sem acesso à informação. De onde se conclui que o novo projeto para o Brasil só terá força e maioria se focalizar como questão central a superação da pobreza.
Esta é uma reflexão básica do livro "Visões do Brasil" (461 páginas, Editora Record), que reúne ensaios do embaixador Rubens Ricupero. São textos escritos ao longo de uma variada e rica militância diplomática.
Depois de 37 anos representando o Brasil em países e organizações internacionais, Ricupero está se aposentando nesta semana, quando seu livro chega às livrarias. É, assim, um balanço geral, mas não uma despedida.
Ricupero assume nea quinta-feira, em Genebra (Suíça), o posto de secretário-geral da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento (Unctad). E nesse posto vai tratar diretamente de um dos temas centrais de "Visões do Brasil": a globalização é modernizante e excludente, ao mesmo tempo gera progresso e marginaliza perdedores.
A prova disso está num dos programas da Unctad. Em 1990, a organização relacionou 42 países com renda per capita abaixo dos US$ 300 anuais, os mais pobres do mundo.
Definiu-se então um programa de apoio a essas nações, com o objetivo de superar a linha de pobreza absoluta antes do ano 2000. Passou-se o contrário. Feita uma nova avaliação em 1995, verificou-se que os países mais pobres tinham passado de 42 para 48, no auge da globalização econômica.
"Observe o tamanho do problema", comentou Ricupero para a Folha . Dos 188 países associados à Unctad, "nada menos que 48 são pobres entre os pobres".
Os sinais de que o Brasil não atingiu a elevação do nível de vida de seus habitantes estão evidentes. "O Brasil exibe hoje um rosário de chacinas, da Candelária ao Carandiru, cada uma mais monstruosa que a outra", diz.
E mais: a eclosão do Movimento dos Sem-Terra, "simbolicamente, é como a revolução de Chiapas, no México", observa.
Ricupero oferece não propriamente um roteiro, mas idéias básica para um novo projeto. O primeiro ponto é manter o Real, pois a estabilidade da moeda é um valor universal para Ricupero, que ocupou o Ministério da Fazenda, em substituição a FHC.
Mas o Plano Real não pode ser o projeto para o Brasil. "É a pré-condição necessária, não o projeto", diz o embaixador. O projeto tem que ser um projeto de justiça social.
Esses temas, numa abordagem internacional, continuarão sendo objeto dos artigos que Ricupero publica todo sábado na Folha.

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